sábado, 3 de outubro de 2015

Os sete pontos de Putin para uma "nova ordem mundial"


O texto abaixo foi traduzido pelo blog Espaço Marxista a partir daqui, e traz os pontos extraídos do discurso do presidente russo, Vladimir Putin, na Assembleia Geral da ONU ocorrida no final de setembro.

Temos ciência de que a Rússia de Putin não é o Estado Operário soviético, mas, ainda assim, é um importante agente global, à testa do bloco alternativo que se contrapõe ao imperialismo de Washington e União Europeia. Tal papel dá ao país -mesmo em face de suas contradições- um caráter progressista na atual quadra histórica. Esse caráter progressista fica evidente nos pontos abaixo, onde Putin prega a multipolaridade global (o que requer uma ONU diferente, como é dito no texto), o não-intervencionismo militar ocidental e se alinha, corretamente, com Assad.

Discordamos do mandatário russo, todavia, quando equipara a "exportação" do socialismo feita pelos soviéticos com a exportação da "democracia" da OTAN. Ainda que a Moscou soviética tenha levado aos países de sua franja uma socialismo burocraticamente deformado, ainda assim, por se tratar de socialismo, estamos falando de construções sócioeconômicas superiores. Ademais, falar em "impor revoluções socialistas" é, por um lado, dar à URSS um caráter imperialista, que não tinha (salvo nas infames acusações de "social-imperialismo" por parte de Pequim, quando da distensão sino-soviética), e, por outro, desconsiderar o caráter internacionalista do socialismo que, evidentemente, transborda fronteiras -aspecto horizontal da revolução permanente-, o que não quer dizer "imposição".

Os sete pontos de Putin para uma "nova ordem mundial"

[Primeiro] Por causa das insensatas intervenções militares sob pretexto da "revolução democrática", o Oriente Médio foi transformado em uma imensa bomba-relógio, disse Putin de acordo com o website "Politico" [Politika].

A imposição de um sistema nunca funcionou. A União Soviética aprendeu do jeito difícil que não poderia impor revoluções socialistas, e o Ocidente deveria aprender que não pode exportar revoluções democráticas.

Como segundo ponto importante, ele destacou o papel das Nações Unidas, que não é uma reunião de potências ocidentais, mas uma organização que deveria garantir paz e segurança para todos, e não apenas no benefício de determinado país.

"Desse ponto de vista, apenas a ONU tem o direito de formar uma coalização para combater o Estado Islâmico. Se isso não ocorrer, a Europa transbordará com milhões de refugiados, e nenhum país estará a salvo dos terroristas", Putin disse.

Em terceiro lugar, o presidente russo considerou o veto no Conselho de Segurança da ONU "completamente normal". Refere-se à condenação da Rússia no Conselho em razão da aquisição da Criméia, e o veto russo à formação de uma corte para investigar e acusar os responsáveis pela queda do vôo MH17 da Malaysia Airlines.

O presidente russo enfatizou que o embate de opiniões e o desacordo são fenômenos completamente normais.

Como quarto importante fenômeno, Putin destacou a situação na Síria. Disse que o Ocidente deve entender que o governo de Bashar al-Assad, não importa o quanto esteja esfacelado, é, contudo, a única instituição legítima que existe na Síria. "O regime de Kadafi na Líbia também não era o ideal, mas o que veio depois foi o verdadeiro terror", disse o presidente russo.

"Precisamente, ações coordenadas e planejadas para a derrubada de um regime podem abrir espaço para males como o Estado Islâmico, cujos líderes se tornaram arrogantes após a queda de Saddam Hussein, que os mantinha sob controle"- disse Putin.

A "oposição moderada" simplesmente não existe, o que ficou demonstrado com as cômicas e dispendiosas tentativas dos EUA de treinar e armar os rebeldes sírios.

Quinto, o Ocidente deve refrear seu apetite de derrubar regimes que considera incompatíveis com seus ideais de direitos humanos e liberdade de imprensa. Putin, nesse grupo, inclui a Rússia, e avisa o Ocidente para que "fique longe dos assuntos internos do país".

O impacto da intromissão dos Estados Unidos na Ucrânia provocou consequências sangrentas e levou à guerra e a mais de oito mil vítimas, disse o presidente russo.

Sexto, o mundo deve voltar ao comércio normal, harmonizado sob os auspícios da Organização Mundial do Comércio e das Nações Unidas. Essa nova ordem não deve ser ditada pelos países mais fortes, mas de forma justa e igualitária para todos, incluindo os mercados combinados da União Europeia e da União Eurasiana, defendeu Putin.

Em tal mundo, não deve haver lugar para a imposição de sanções por motivos políticos ou para ganhos pessoais, acredita Vladimir Putin, acrescentando que as sanções contra a Rússia devem ser abolidas, porque "o Ocidente sabe que não alcançarão seu intento".

Em sétimo, o Ocidente deve respeitar a razoável e legítima preocupação da Rússia sobre a expansão da OTAN. Após o colapso da União Soviética e do Pacto de Varsóvia, a expansão da OTAN apenas pode ser entendida como uma ameaça à Rússia e à sua soberania, disse Putin.

O discurso de Vladimir Putin trouxe um novo e mais direto foco na política mundial, e a partir do melhor lugar: a tribuna para a qual se voltavam os olhos do mundo inteiro. O presidente russo habilidosamente apresentou fatos irrefutáveis sobre os erros cometidos pelo Ocidente nos anos de intervenções baseadas em suas ideias, conforme avaliou o site Politico.
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