Coletivo Espaço Marxista
A ofensiva de direita, alimentada pelo imperialismo internacional, não dá trégua na América do Sul. Além das recentes e ainda que parciais vitórias na Argentina, com a eleição de Macri (que até está abrindo bases para os EUA), e no Brasil, com o golpe orquestrado contra o governo de Dilma Rousseff, o imperialismo também tem aumentado seus esforços nas últimas semanas para desestabilizar o governo bolivariano de Nicolás Maduro na Venezuela. Os meios são os de sempre: manifestações de rua convocadas pela direita, boicote, especulação e locaute por parte do empresariado (a Guerra Económica), ampla campanha midiática difamatória, inclusive internacionalmente etc. Trata-se de uma situação tão grave que levou o governo Maduro neste mês de maio a declarar um Estado de Excepción y Emergencia Económica (reforçando medidas de fevereiro deste ano), para que possa debelar a crise. A UNASUR, por sua vez, pede diálogo entre o governo e a oposição.
Com exceção de Cuba, de revolução já consolidada há décadas, a Venezuela é o país nas Américas onde o processo de luta de classes para o socialismo está mais avançado. A Revolução Bolivariana trouxe as massas para o debate político, estimulando a democracia direta, ou participativa (rumo a um dito Estado Comunal, definindo-se, hoje, em sua constituição, como um Estado Democrático e Social de Direito e Justiça); fomentou seu instinto patriótico; mostrou autonomia e insubmissão ao imperialismo, priorizando outros atores globais (China e Rússia, por exemplo); patrocinou serviços e programas sociais e humanitários (como a Operación Milagro, em parceria com Cuba, para atendimento oftalmológico a pessoas de baixa renda) etc. Isso tudo atrai para o país ódio de morte por parte do campo reacionário mundial, que há anos tenta fazer soçobrar o processo bolivariano- para ficarmos só em alguns exemplos, lembremos do fracassado golpe de abril de 2002, tendo à frente o reacionário Pedro Carmona, e da Executive Order de Obama em março de 2015, prorrogada em março deste ano, declarando a Venezuela uma ameaça à segurança estadunidense.
Nesse cenário, é evidente que há várias dificuldades. As taxas de inflação são consideradas altíssimas, há escassez de produtos e denúncias de corrupção e de desvios de verbas públicas. Apesar de muitas dessas informações serem fruto de manipulação e contrapropaganda de direita, o próprio governo reconhece o panorama e aponta três causas principais: a aludida guerra econômica nacional e internacional contra o país, a queda de preços -por razões geopolíticas- no setor petrolífero (o grande motor da economia venezuelana) e por fim o esgotamento do próprio modelo rentista petroleiro, dependente do dólar. Além da parte econômica, há o cabedal de críticas do campo de extrema-esquerda, sobre a Revolução Bolivariana ser um movimento burguês, sobre o PSUV burocratizado ser um entrave à revolução etc.
Nós do Coletivo Espaço Marxista apoiamos a Revolução Bolivariana. Mesmo que se tratasse de um movimento puramente "nacionalista burguês", ainda assim, como diz Trotsky se referindo à América Latina dos anos 30, "em todos os casos nos quais ela [a burguesia nacional] enfrenta diretamente os imperialistas estrangeiros ou seus agentes reacionários fascistas, lhe damos nosso pleno apoio revolucionário" (aqui), mantendo, é claro, nossa independência programática e liberdade de crítica. Ademais, há que perguntar: que governo burguês é esse que fala abertamente em construção do socialismo e que fomenta a democracia direta? E que prega -e faz na prática- a integração latinoamericana e a resistência contra o imperialismo? No mínimo, trata-se de uma experiência progressista, e portanto é dever do campo progressista mundial cerrar ombros com a Venezuela.