Abaixo publicamos entrevista com Assad, concedida em Damasco a canal chinês. Nela o líder sírio denuncia a ofensiva midiática imperialista contra o regime, bem como o apoio das monarquistas absolutistas da Arábia Saudita e do Catar, e da Turquia (membro da OTAN), às organizações jihadistas que devastam o país. Também frisa que não há "guerra civil" como equivocada (e dolosamente) é divulgado, e sim uma agressão terrorista apoiada por países inimigos interessados na queda do governo. Elogia, por fim, o papel da Rússia e da China, na busca pela solução pacífica do conflito e por servirem de contraponto ao bloco ianque-europeu.
Nós do blog Espaço Marxista estamos do lado do mandatário sírio. Em que pese termos ciência de que o regime assadista está longe de ser elemento propulsor para a construção de um "socialismo sírio", ainda assim tem traços progressistas que apenas os esquerdistas infantis pequeno-burgueses são incapazes de perceber. Além da laicidade do país -diferentemente das reacionárias monarquias teocráticas da região-, mantém um forte caráter nacionalista, anti-imperialista e anti-sionista, identificando-se, ainda que de forma diluída, com a tradicional linha Baath e pan-arabista. Em sentido oposto, a queda de Assad significaria a pilhagem e a partilha do país pelas potências da OTAN, e, não bastasse, a Síria estaria assolada de alto a baixo pelo reacionário jihadismo de organizações wahhabistas como o ISIS e Frente al-Nusra.
A lição do Iraque de Saddam e da Líbia de Kadafi deveria bastar para convencer tais esquerdistas pequeno-burgueses da necessidade de se ombrear com o regime de Assad. Não há "terceiro campo" aqui. O Exército "Livre" é um farsa que já se desmanchou ao longo dos acontecimentos, e não há oposição "moderada" (vide aqui). Os curdos, por sua vez, têm o mérito da resistência no Curdistão, mas não têm recursos -humanos e materiais- e, principalmente, não teriam apoio consensual (haja vista o caldeirão étnico e religioso) para "pacificar" o país como um todo, e muito menos se o fizerem em aliança com o Ocidente (e colocamos isso aqui, onde deixamos claro que apoiamos os curdos contra Assad, mas jamais se estiverem emblocados com a OTAN). A situação toda é colocada, portanto, assim: ou o bloco Putin-Assad-xiita ou a OTAN e o wahhabismo. E não se pode ficar neutro nesse conflito. Será possível que os "revolucionários" de hoje nada mais façam que reproduzir vícios sectários assaz denunciados?
Os sectários só são capazes de distinguir duas cores: o branco e o preto. Para não se expor à tentação, simplificam a realidade. Recusam-se a estabelecer uma diferença entre os campos em luta na Espanha pela razão de que os dois campos têm um caráter burguês. Pensam, pela mesma razão, que é necessário ficar neutro na guerra entre o Japão e a China. ["Programa de Transição", 1938, aqui]
Ainda que Assad esteja longe de ser um "quadro marxista", é melhor seu nacionalismo burguês ao wahhabismo reacionário sob os auspícios da OTAN. As coisas precisam se dar não como os "revolucionários" esquerdistas, com seus castelos nas nuvens, sonham; e sim como é o melhor para a classe trabalhadora síria. Se há insatisfação com Assad, a dobradinha wahhabista-otanista traz pesadelos piores. Não fosse a investida sem trégua movida pelo imperialismo, o povo sírio não estaria sob tais atribulações há quatro anos.
O caráter meramente "nacionalista" da resistência síria soa mal em ouvidos esquerdistas, que idealizam palavras de ordem "super" marxistas revolucionárias. Todavia, há nacionalismos e nacionalismos. Trotsky, ao explicar que o imperialismo não se manifesta da mesma maneira em todos os países, e que não se pode falar em fascismo "em geral", lembra que também a democracia tem nuances e sentidos definidos conforme a conjuntura e a correlação de forças:
Para México, por ejemplo, democracia significa el deseo de un país semicolonial de escapar a la dependencia, de darles la tierra a los campesinos, de elevar el nivel cultural de los indios, etcétera. En otras palabras, los problemas democráticos en México son de carácter progresivo y revolucionario. ¿Y qué quiere decir democracia en Gran Bretaña? La conservación de lo que existe, sobre todo del dominio de la metrópoli sobre las colonias. lo mismo se aplica a Francia. En estos países las banderas de la democracia ocultan la hegemonía imperialista de la minoría privilegiada sobre la mayoría oprimida. ["Combatir al imperialismo para combatir al fascismo", 1938, aqui]
A luta de resistência síria, ainda que de caráter meramente "nacional", é progressista, portanto, assim como é progressista a luta meramente "democrática" na América Latina de ontem e de hoje. Em todos esses casos, o adversário -ainda que apareça disfarçado com máscaras igualmente "nacionais" e "democráticas"- é a besta-fera do imperialismo. Estamos do lado de tais lutas onde quer que sejam travadas, ainda que dirigidas por setores burgueses, convocando, evidentemente, a classe trabalhadora para assumir a vanguarda da luta.
No já aludido "Programa de Transição", Trotsky fala assim dos sectários:
Não saem do lugar, contentando-se em repetir as mesmas abstrações vazias. Os acontecimentos políticos são para eles ocasião de tecer comentários, mas não de agir.
Enquanto os esquerdistas infantis esperam a situação "ideal", que nunca vem, para agir, nós agimos desde já com as condições dadas. Por isso, sem a menor hesitação, estamos do lado de Assad, de Putin e do eixo xiita (Hezbollah, Irã e milícias populares) contra a OTAN e contra o wahhabismo.
Segue abaixo a matéria com o dirigente sírio, cujo link original é este.
Creo en mi pueblo y trabajo para mi país, afirma presidente sirio
Damasco, 22 nov (PL) Creo en el pueblo, estoy trabajando para mi país y para mi gente, afirmó en esta capital el presidente sirio, Bashar al-Assad, durante una entrevista concedida al canal de televisión chino Phoenix.
Al-Assad comentó que Occidente quiso convencer a la opinión pública internacional, que el conflicto sirio consistía en un mandatario aferrado al poder y que la gente quería deshacerse de él.
"¿Cómo puede mantenerse alguien en el poder, cuando se tiene la oposición no sólo de los terroristas dentro de Siria, sino también los países más fuertes y los países más ricos y usted permanece durante cinco años?, cuestionó el presidente.
Explicó que para lograr eso, tiene que contar con el apoyo de una buena parte del pueblo, pero "Occidente calculó mal, porque pensaron que era una cuestión de semanas o meses, al igual que lo ocurrido en Túnez y en Egipto".
Se refirió además al manipulado concepto de "guerra civil", empleado por los medios de comunicación de las naciones occidentales para describir la crisis siria, algo que negó categóricamente, considerándola como una agresión terrorista, apoyada por países que no esconden sus intenciones de derrocar al gobierno.
A su vez, el presidente al-Assad calificó a Turquía, Arabia Saudita y Qatar como el patio trasero del grupo terrorista Estado Islámico (EI), e insistió que todas las formas de apoyo a las bandas del grupo EI pasa a través de Turquía con el apoyo personal de (Recep Tayyip) Erdogan y (Ahmet) Davutoglu, presidente y primer ministro turcos, respectivamente.
El mandatario sirio agregó que no hay un calendario para derrotar al terrorismo, porque eso depende del avance del ejército sobre el terreno, el apoyo que reciben los extremistas de otros países.
Subrayó que en Occidente y algunos países de la región no tienen interés en alcanzar una solución política y piensan que respaldando a las bandas terroristas podrán derrocar al gobierno y por eso quieren prolongar la crisis.
Elogió también los esfuerzos políticos realizados por Rusia, para encontrar consenso entre todas las partes involucradas en el conflicto, y buscar una salida a la crisis iniciada en 2011.
Aplaudió la propuesta de efectuar una tercera ronda de negociaciones en Moscú entre gobierno y oposición, y apoyo la propuesta de seguir dialogando hasta encontrar soluciones prácticas que consoliden la paz.
Resaltó también las relaciones entre Siria y China, y recordó con agradecimiento la posición del gigante asiático, al vetar en la ONU los intentos de agredir al pueblo del Levante.