Texto publicado na Folha do Trabalhador nº 23
maio de 2015
Continua a ofensiva da coalização saudita -"Operação Tempestade Decisiva" [nota: formalmente encerrada em 21/ 04 e convertida em "Operação Renovação da Esperança" (Renewal of Hope)]- no Iêmen, no combate às forças xiitas Houtis, que derrubaram o até então presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi. Com isso, a Arábia Saudita, ao lado de seus aliados ianques e sionistas, deixa claro que não abre mão da hegemonia sobre a Península Arábica e arredores. É um recado claro ao Irã, que supostamente apoiaria os Houtis, pelo laço religoso -o xiismo (no caso dos iemenitas, a variante zaidita)- em comum.
O Irã é um velho adversário a ser batido. Dada a sua firme retórica anti-estadunidense e anti-sionista, desde a Revolução de 1979, e sua ascensão como potência regional, tornou-se inimigo nº1 dos regimes pró-Ocidente da região, que querem de todas as formas minar sua influência no mundo árabe-xiita, do Hezbollah libanês ao governo sírio de Assad. Os chiliques do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, após as negociações entre as potências ocidentais e o Irã, envolvendo o programa nuclear do país -que culminaram por permitir, ainda que de forma controlada e reduzida, que os iranianos tocassem adiante suas atividades- são exemplos da hostilidade da qual a República Islâmica é alvo.
No xadrez geopolítico moderno, há claramente um pólo alternativo ao imperialismo ocidental se configurando, englobando parte dos BRIC's (bloco econômico "emergente" que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), os países latino-americanos de inspiração bolivariana etc. Mesmo que alguns desses possam ser, eles próprios, considerados imperialistas ou "semi-imperialistas" (casos da China e Rússia ou, regionalmente, o próprio Brasil), e mesmo que o capitalismo moderno crie vínculos econômicos estreitos inclusive entre países "inimigos", há contradições que os marxistas devem saber aproveitar, em prol da classe trabalhadora mundial e da luta pelo socialismo. Nesse sentido, diante desse tensionamento é preciso apoiar tal pólo "alternativo" sempre que se colocar em conflito com o imperialismo "oficial".
O Irã, nessa conjuntura, integra tal bloco de resistência ao imperialismo das potências ocidentais. Deve ser apoiado, portanto, o que não quer dizer que endossemos o caráter teocrático do país, haja vista que, como marxistas, defendemos o autogoverno dos trabalhadores em moldes laicos. E repudiamos, cabalmente, a ofensiva militar saudita-sionista-ianque contra o território soberano do Iêmen, e exigimos o fim imediato da agressão.