O texto a seguir, de autoria do jornalista Paulo Nogueira, foi extraído aqui. Tece considerações sobre a recente manifestação do ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa, no Twitter, "exigindo" a demissão do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, por causa de referência ao mesmo nas investigações da "Lava jato".
De nossa parte, não temos nenhuma simpatia para com o governo Dilma e seu ministério. Todavia, há que apontar que Joaquim Barbosa, ao formular suas críticas, age como porta-voz de forças ainda mais à direita do PT, e seu discurso "moralista" -evocando os "brasileiros honestos"-, demagogo, é feito sob medida para agradar os extratos lacerdistas da pequena burguesia brasileira. Aliás, não é só no discurso político que JB se coloca ao lado da vanguarda do atraso; enquanto jurista, em que pese sua tão proclamada formação acadêmica, ficou famoso por desrespeitar princípios constitucionais e processuais penais rotineiramente, seja como presidente da corte seja como relator da AP 470 ("Mensalão"), o que lhe valeu o repúdio de entidades de classe da Advocacia e da própria Magistratura.
Segue abaixo o texto.
Joaquim Barbosa foi mais Joaquim Barbosa que nunca ao condenar sumariamente o ministro da Justiça
Quando você pensa que se livrou de Joaquim Barbosa eis que ele reaparece a seu velho estilo – um deleite para os conservadores e analfabetos políticos brasileiros.
Agora ele se julgou no “direito e no dever” de exigir a demissão do ministro Cardozo, da Justiça.
Fez isso no Twitter, e recebeu aplausos dos revoltados e mentecaptos online.
Joaquim Barbosa foi mais Joaquim Barbosa que nunca em seu rito sumário contra Cardozo.
Ele se baseou numa reportagem do Globo segundo a qual o ministro teria dito a envolvidos no caso Petrobras que depois do Carnaval as coisas mudariam de rumo na Lava Jato.
Primeiro de tudo: desde quando uma reportagem do Globo deve ser objeto de fé cega?
O Globo, com seu fortíssimo viés antipetista, tem que ser lido com extremo cuidado, assim como a Veja.
Me vieram à mente cenas do Mensalão. Jamais esqueci um juiz que, para atacar o PT, dizia que sempre via um escândalo novo nos jornais e nas revistas – como se os editores não pudessem, simplesmente, fabricá-los ou, numa hipótese benigna, exagerá-los.
Joaquim Barbosa, como de costume, não ouviu a outra parte. Não quis saber o que Cardoso tinha a dizer. Condenou-o.
Em sua maneira tosca de se expressar, ele falou em nome dos “brasileiros honestos”. Ora, fale em nome de si próprio. Sou brasileiro, sou honesto e discordo inteiramente de Joaquim Barbosa.
Em seu Twitter, ele gosta de louvar os Estados Unidos. Parece que não aprendeu nada com o exemplo americano. Os juízes da Suprema Corte americana, ao contrário dos nossos, não se pronunciam sobre nenhum tema político – a não ser quando o assunto chega aos tribunais.
Faz parte da cultura jurídica americana. Cada poder no seu lugar.
No Brasil, com seu insuportável palavreado, muitos juízes do STF não se acanham em palpitar sobre assuntos políticos e até econômicos.
Um dos mais tagarelas, Gilmar Mendes, achou que podia sentar interminavelmente sobre uma questão política – o financiamento de campanhas – sem dar nenhuma satisfação à sociedade.
Joaquim Barbosa deve estar sentindo falta dos holofotes que o fizeram um herói da direita – dos Lobões e assemelhados — no Mensalão.
Um lugar de colunista na mídia pode devolver-lhe ao menos parte das luzes perdidas com a aposentadoria.
Tenho para mim que não tardará muito e ele se juntará aos Mervais, Jabores, Azevedos, Sheherazades et caterva. Não é pior que eles.
Provavelmente teremos que aturar Joaquim Barbosa por um bom tempo ainda.
Ele, Joaquim Barbosa, que a Veja num momento de burrice insana definiu como o homem que mudou o Brasil – sem haver conseguido mudar sequer a corte que comandou tão desastrosamente.
Em tempo, o aludido tweet é o seguinte: