sábado, 15 de setembro de 2018

Aviso de incêndio na História


O Espaço Marxista publica abaixo texto do advogado Gabriel Abelin, fazendo uma análise da conjuntura pré-eleitoral que vive o Brasil e o paralelo histórico com a ascensão do fascismo nos fatídicos anos 30. De quebra, traz um panegírico a Che Guevara e seu legado.


OUTRA VEZ: aviso de incêndio na História.

Gabriel Abelin

I

"A História é um conto contado por um louco, 
cheio de estrondo e fúria que não significa nada".
William Shakespeare, "Macbeth"

Escrevi este artigo durante meu período de férias, nas férias das aulas na Escola Superior (sic) da Magistratura do Estado do Rio Grande do Sul.

Mais precisamente: escrevi em 27 de julho de 2018.

No mesmo dia 27, meu amigo de longos anos Joycemar Tejo, comentou em meu despretensioso "post" de "Feice" (sic): "Perfeita análise (salvo, ao menos hesito por ora, quanto ao voto taxativo no (...), menos por ele e mais por uma necessidade de aguardar os próximos momentos). Publica esse texto em alguma página, merece mais que um post de Face".

Matutei, matutei, pensei: "Tá, ok, tá mesmo na hora de publicar isto num troço mais sério. Mas escuta aqui, hein, o Tejo mantém uns 1236 blogs na internet desde que o conheço. Já que ele sugeriu que eu publicasse, que publique ele. Nada mais justo".

Fui falar com meu amigo Tejo.

"Publica o que tu disse que era pra publicar".

"Não dá. Tá com problema no item 15".

"Não viaja, bicho. O item 15 fala a respeito disso, daquilo e daquele outro. Não tem problema nenhum. Deixa de ser lazarento e publique".

"É verdade. Me equivoquei. Não é no item 15. É no item final".

"Bom, basta eu cortar. Faço isso em 2 minutos".

"Ok, então corta e me manda que eu publico".

"Não, farei melhor. Vou dar uma acrescida violenta neste artigo, vou deixá-lo uma teteia, uma peça literária praticamente, tu vais publicá-lo e, de lambuja, se eu conseguir mesmo deixá-lo melhor que já estava tu vais me dar os três volumes da biografia do Sr. Leon Trotsky, do Deutscher, que tu tá já leu e tá parada aí na tua estante pra fazer balaca. Feito?"

"Aiaiai, caralho... tá bem, tá bem! Vamos pensar. Mas... tá... me manda issae. Se estiver bom mesmo eu te dou os livros".

"Mermo?"

"Confie em mim".

Eis o resultado.

II

"hay un cuadro de klee (1920) que se titula Ángelus Novus. se ve en él a un Ángel al parecer en el momento de alejarse de algo sobre lo cual clava su mirada. tiene los ojos desencajado, la boca abierta y las alas tendidas. el ángel de la Historia debe tener ese aspecto. su cara está vuelta hacia el pasado. en lo que para nosotros aparece como una cadena de acontecimientos, él ve una catástrofe única, que acumula sin cesar ruina sobre ruina y se las arroja a sus pies. el ángel quisiera detenerse, despertar a los muertos y recomponer lo despedazado. pero una tormenta desciende del Paraíso y se arremolina en sus alas y es tan fuerte que el ángel no puede plegarlas… esta tempestad lo arrastra irresistiblemente hacia el futuro, al cual vuelve las espaldas mientras el cúmulo de ruinas sube ante él hacia el cielo. tal tempestad es lo que llamamos progreso".

(BENJAMIN, Walter. Tese nº 9 Sobre o Conceito de História. Procurei, procurei, procurei. E achei. As “teses” estão disponíveis para o português neste link)

"Angelus Novus", o Anjo da História. Quadro de Paul Klee, 1920.

No ano 1921, o filósofo Walter Benjamin comprou uma aquarela do pintor Paul Klee intitulada "Angelus Novus".

Durante alguns meses, o quadro permaneceu em Munique, na casa de um cidadão chamado Gershom Gerhard Scholem.

Depois, Benjamin o levou para Berlim.

Em 1932, Benjamin pensou em cometer suicídio e deixar de herança o quadro para seu amigo Scholem.

Em 1935, Benjamin emigrou para Paris e levou a pintura com ele.

Em 1940, antes de partir para os Pireneus para tentar fugir dos nazistas, deixou a aquarela no abrigo do escritor francês Georges Bataille.
"Bunker" de Bataille: Biblioteca Nacional de Paris.

Ao final da Segunda Guerra Mundial o quadro foi levado para os Estados Unidos, onde permaneceu nas mãos de Theodor Adorno, que retornou a Frankfurt com ele.

Atualmente a aquarela está no Museu de Israel em Jerusalém.

Foi levada para lá pela viúva de Gershom Gerhard Scholem, o tal amigo de Benjamin que mencionei ali em cima.

O “Angelus Novus” nada mais é do que a imagem que a sociedade moderna construiu de si.

Uma metáfora poderosamente sugestiva.

III

Walter Benjamin e a presença do Sagrado.

Quando Theodor Adorno e Max Horkheimer escrevem seu livro "Dialética do Esclarecimento" já haviam lido o ensaio de Walter Benjamin, "Teses sobre o Conceito da História” – também traduzida como "Teses sobre a Filosofia da História", título que me soa mais digno.

"Teses sobre a Filosofia da História" é um pequeno ensaio que Benjamin escreve e entrega para seu amigo, o dramaturgo e poeta Bertolt Brecht.

Benjamin estava sendo terrivelmente perseguido pela Gestapo.

Adorno escreve a ele do seu autoexílio de luxo na Califórnia (em que escreveu com Horkheimer "Dialética do Esclarecimento", também traduzida como "Dialética do Iluminismo"... Max Horkheimer foi um filósofo não mais que razoável, até o momento em que fritou o cérebro ao cogitar que o tosco "Frederico" Nietzsche poderia ter sido "um pensador maior que Marx", depois dessa o cara desandou legal em sua carreira filosófica... Nietzsche, em seu auge, foi, quanto muito, um talento. Marx foi um gênio.). Adorno diz para Benjamin ir para o exílio imediatamente, ao que Benjamin lhe responde, duramente: "Ainda há razões para eu ficar e defender a Europa"... tirou o colega Adorno para cagão. Com razão.

Benjamin era um homem tremendamente inteligente, simples, pequenininho, judeu, um homem de fé, que tinha uma bela teoria sobre "o Messias".

Para Benjamin, se não entendi mal, "o Messias" não chegaria até nós "ao final dos tempos".

Para Benjamin, o Messias aparece por algumas "pequenas sendas" da História, em determinados momentos, momentos muito especiais para nós. Ele forneceu alguns exemplos. Lembro especialmente de dois.

Às vezes entramos em uma Igreja gótica, templo, ou qualquer grande arquitetura de reflexão e pensamento.

Está vazio.

Estamos sozinhos.

Sentamos em um banquinho qualquer, em um cantinho qualquer.

E começamos a observar silenciosamente a beleza, os detalhes nos vitrais multicoloridos, essas coisas.

Coisas pequenas.

E, de repente, somos tomados por arrebatador e imenso sentimento de alegria, euforia, inquietude.

E paz.

É o Messias se apresentando diante de nós, dizia Benjamin.

Dura pouco.

"Dá e passa", ele dizia.

Como outro pensador judeu, Martin Buber, diz em um livro chamado "Eu e tu": "Há momentos".

Sentimos a plenitude da presença do absoluto, do sagrado, de algo que está além de nossas vidas finitas e, temos, digamos, um momento de fé.

Mas não é uma fé que em uma certeza absoluta.

É um momento.

"Dá e passa", como disse que ele dizia.

Momentos que parecem fora da História.

Outro exemplo era o encontro de miradas furtivas entre homens e mulheres.

De repente nos pegamos olhando a mulher que amamos em alguma situação banal do dia a dia, e nos sentimos envoltos por um irresistível sentimento por aquela pessoa, como se quiséssemos congelar aquele instante e viver para sempre nele, como se quiséssemos amar aquela mulher para sempre.

Esses momentos, para Benjamin, é que são os momentos de presença do Sagrado em nossas vidas.

Os momentos em que "Messias" aparece para nós.

Aparece por pequenas fendas.

Na História, em nossas vidas, há momentos em que sentimos a presença, a plenitude do absoluto, do sagrado, daquilo que nos transcende completamente, mas, no entanto, comunica-se conosco naquele momento.

A persistência do Messias é constante. Não é uma presença que fecha a história, mas é uma presença que acompanha a História e que em algum momento pode nos ser apresentada.

Em algum momento podemos ter contato com o sagrado, com o divino, com o absoluto.

Através desses momentos fazemos contato com o sentido da nossa vida, da História e com o quê, em última instância, poderia resgatar, redimir nossa face humana, que nos é arrancada pela sociabilidade imposta por este sistema de produção e distribuição de riquezas extremamente injusto em que nos encontramos, historicamente, inseridos.

Bueno.

Benjamin, finalmente, decide fugir e atravessar a fronteira com a França para a Espanha, em Portbou.

Quando ele chega à fronteira, precisamente naquele dia (olha o azar do cara..), a fronteira fecha.

A fronteira fecha e Benjamin se desespera.

Entra em pânico, aterrorizado, porque sabe exatamente como era a Gestapo, como ela tratava os judeus que "apanhava".

Ainda mais os intelectuais.

Walter Benjamin chega à conclusão de que, se fronteira se fechou para ele, sua vida também foi fechada.

Então, comete suicídio.

Um suicídio horrível, pois ele toma muita morfina, a morfina não faz efeito direito, ele passa uma noite terrível.

Finalmente, morre.

E no dia seguinte a fronteira reabre.

A trágica morte de Walter Benjamin "é" – pois se repete todos os dias, em todos os lugares do mundo - a morte do pensamento humanista, do pensamento que defende o direito do ser humano de viver em paz, de não ser torturado, não ser oprimido, não ser confinado em um campo de concentração – e são tantos.. - como uma coisa que outras pessoas vão arrastando como isso: como se o homem fosse uma coisa.

"Existe Auschwitz; não existe Deus" (Primo Levi, "Se isto é um homem").

As ideias de Benjamin nas "Teses" não são nenhum pouco simpáticas.

Brecht, em agosto de 1941, depois de ler "Teses", diz a seu amigo, algo do tipo: "Penso com horror o quão pequeno é o número daqueles que estão dispostos pelo menos a sequer mal entender isto".

Hoje em dia o chamariam de "pessimista".

"Mas você é um pessimista, Brecht", diria o leitor amigo.

A dicotomia otimismo x pessimismo é mais uma das bobagens intoleráveis de certo tipo de subliteratura de "autoajuda", que só ajuda o bolso de quem a escreve (Millôr Fernandes).

Trata-se de uma chantagem fingir que somos otimistas.

Martin Heidegger, filósofo não mais que razoável (e um belo de um nazista f.d.p., como demonstra a publicação de seus próprios diários pessoais, os "Cadernos Negros", a recém traduzidos e publicados para o português, assim como os escritos de alguns de seus discípulos, entre os quais o chileno Victor Farias), detestava as categorias "otimismo" ou "pessimismo".

Diz ele, n'"A Introdução à Metafísica", de 1953:

Quando a tecnologia e o dinheiro tiverem conquistado o mundo; quando qualquer acontecimento em qualquer lugar e a qualquer tempo se tiver tornado acessível com rapidez; quando se puder assistir em tempo real a um atentado no ocidente e a um concerto sinfônico no oriente; quando tempo significar apenas rapidez online; quando o tempo, como história, houver desaparecido da existência de todos os povos, quando um esportista ou artista de mercado valer como grande homem de um povo; quando as cifras em milhões significarem triunfo, – então, justamente então — reviverão como fantasma as perguntas: para quê? Para onde? E agora? A decadência dos povos já terá ido tão longe, que quase não terão mais força de espírito para ver e avaliar a decadência simplesmente como… Decadência. Essa constatação nada tem a ver com pessimismo cultural, nem tampouco, com otimismo… O obscurecimento do mundo, a destruição da terra, a massificação do homem, a suspeita odiosa contra tudo que é criador e livre, já atingiu tais dimensões, que categorias tão pueris, como pessimismo e otimismo, já haverão de ter se tornado ridículas, risíveis.

Otimismo e pessimismo não são categorias úteis para pensar. Como escrevia Marx em carta a Ruge, setembro de 1843: "(...) a situação desesperada da época em que vivo me enche de esperança".

Está carta está disponível, em espanhol, aqui.

Por que estou fazendo este floreio todo, falando de Benjamin, etc.?

Porque confesso que este artigo está mais próximo da visão da História de Benjamin como uma catástrofe.

Assim (sem querer liquefazer os impulsos de ninguém), escrevi este artigo como advertência, e, socorro-me em Walter Benjamin para tanto.

E também - neste ponto - em Gramsci: "O pessimismo da razão não reduz o otimismo de minha vontade; antes, lhe confere espessura e reduz o imediatismo, os erros, as derrotas e o vitimismo".

Resumindo, então, qual é a concepção de Benjamin?

Benjamin nos dá uma concepção da História como catástrofe.

Não a História como uma dialética necessariamente voltada para um fim de plenitude.

Não, diz Benjamin.

História não é isso.

A História é uma paisagem de ruínas.

A História foi uma catástrofe completa.

E a disciplina História expressa a ruína da História.

IV - o tal post

"No todo pequeño burgués exasperado podía haberse
convertido en Hitler, pero en cada pequeño burgués
exasperado hay una partícula de Hitler
".

(TROTSKY, Leon. "¿Qué es el Nacionalsocialismo?", 1933)


Um bom texto para iniciar os estudos sobre Trotsky: "Moralistas e Sicofantas Contra o Marxismo". Disponível aqui.

Termino a resenha do livro de Trotsky "Revolução e Contrarrevolução na Alemanha".

Existe um pequeno excerto deste livro de traduzido para o português, sob o nome "Está na Alemanha a Chave da Situação Internacional". Disponível aqui.

Pois política é uma paixão que tenho.


("Una pasión es una pasión". Cena do filme "El secreto de sus ojos". 2009. Diretor: Juan José Campanella)

Assim como a música, os livros, o Grêmio, os gatos, as mulheres ("¿Dónde estaba Dios cuando te fuiste?" - "Canción Desesperada". Tango de 1945. Autoria de Enrique Santos Discépolo), a noite, a polêmica, a disputa, a ironia, o sarcasmo, o humor, o cinema, a filosofia, a literatura, o teatro, a guerra.

Cenal inicial de "O Segredo dos seus Olhos". Benjamín e Irene se despedem na Estação Central de Trem de Buenos Aires.

São coisas que fazem – pelo menos a minha – vida valer a pena.

São paixões.

Fui "picado" muito cedo por elas e penso que não irei me recuperar nunca mais destas minhas paixões, felizmente. Ou não.

E o direito?

O direito é, no máximo, um casamento.

Quem é ou já foi casado sabe o que é um casamento.

Enfim.

Este é meu último post de política antes das eleições.

Trata-se de um aviso.

Para meus amigos lulistas "doentes" e para alguns conhecidos bolsonaristas (que não tenho mais aqui no Facebook, pois expurguei todos, portanto deixarei este post público para, caso resolvam dar uma stalkeada, lerem isto).

Principalmente para um conhecido, aluno do Sr. Olavo de Carvalho, que, enfeitiçado pelo seu "mestre", "escreveu" um "livro" ("Sorria, você está sendo enganado!") muito ruim, muito mal escrito e muito mal referenciado (fontes Arial Black 12, Água Mineral Sarandi – "A água mineral que cuida de você" e Wikipédia, a enciclopédia livre) cujo inteiro teor refutei em 10 minutos de conversa num daqueles pubzinhos gourmets escroques ali na Rua Padre Chagas, em Porto Alegre.

Ele ficou brabinho, que nem o Kiko do "Chaves", resolveu levar a bola para casa e não quis mais brincar comigo.

O engraçado é que, passado um tempo, esse mesmo conhecido, bolsonarista doente de atar, quando enviou um exemplar do seu livro ao Deputado Jair Bolsonaro - para que ele divulgasse em suas mídias sociais o escrito - recebeu um sonoro "vá à ponta de Paris", para não dizer o nome feio aquele – até porque no Brasil as pessoas são muito educadas e não falam nomes feios.

"Trabalhei que nem um louco todos esses anos para este f.d.p. e ele nem para me dar uma mão quando eu mais precisei. Vou largar de mão".

Pois é.

Se não largou, se não acordou ainda, fica o aviso.

Principalmente para você, "meu conhecido".

Porque também aprendi muito cedo que a política é uma espécie de tiara onde os extremos se tocam com não rara frequência.

E morrem abraçados na praia.


1. No ano 1929, após o Colapso da Bolsa de Nova York, da desvalorização do capital financeiro e do desemprego em escalas inéditas, a burguesia percebe que a crise do sistema parlamentar alemão levaria à uma crise revolucionária e à consequente tomada do poder pela classe operária daquele país, dado o nível de decomposição do capitalismo;

2. A partir disso adotam uma estratégia e a nominam “contrarrevolução preventiva”, pois a burguesia possui uma consciência aguda do problema e se dá conta da iminente situação revolucionária. Sentindo que vai perder o controle da situação, resolve se antecipar aos acontecimentos;

3. A 1ª tentativa se dá com uma solução “ditatorial de compromisso”, de cunho bonapartista, com o então presidente da República de Weimar, Paul von Hindenburg;

4. Essa tentativa fracassa rapidamente;

5. Resolvem, então, apostar no Partido Nazista e em seu líder “carismático”, Adolf Hitler. O “grosso” da militância do partido nazista era composta basicamente de veteranos descontentes da I Guerra Mundial, mais um monte de militares caquéticos e problemáticos, mais um monte de gente desgostosa da vida e ligada à repressão da Revolução Comunista de 1918. Copiaram o Mussolini. Tinham um simbolozinho (Mussolini tinha o “facho”, eles escolheram a “cruz suástica”), um uniformezinho de guerreiro (o do Mussolini era preto, um estilo mais elegante, italiano; os alemães preferiram um amarelo queimado meio brega, diga-se de passagem), uma saudação, umas musiquinhas toscas, um hinozinho mais tosco ainda, ou seja, uma caricatura do que já era uma caricatura na origem. Criaram toda uma fanfarronada para impressionar otários, pois o conteúdo ideológico era muito pobre. “O sangue alemão”, a “terra alemã”, “a raça ariana”, “a tradição alemã”, etc;

6. Nas eleições de 1931 o Partido Nazista passa de 5 para 17% dos votos;

7. Na mesma eleição, o KPD (Partido Comunista Alemão) também começa a crescer;

8. Os partidos de Centro (SPD, PC, PD) começam, portanto, a esvaziar e ceder lugar para os extremos;

9. Nas eleições de 1933 o Partido Nazista começa a cair e o Partido Comunista continua a crescer, porém, Trotsky anota que a curva ascendente de crescimento do KPD é muito baixa para, NA SITUAÇÃO IMEDIATA, ultrapassar o Partido Nazista;

10. Alguns meses depois, Hindenburg nomeia Adolf Hitler, líder do Partido Nazista, para a chancelaria (primeiro-ministro) do Reich;

11. Adolf Hitler forma um ministério com políticos de direita, principalmente do Partido Monarquista;

12. Que fique bem claro, então: do ponto de vista jurídico (sic) “não houve golpe”, nem nada. Houve eleições, o presidente convidou e o Sr. Adolfo formou seu ministério. Tudo “nos conformes legais” (sic). Fica aí a questão para quem analisa golpe de Estado do ponto de vista jurídico e aceita tudo numa boa e acha tudo “normal” porque “a norma jurídica” (sic) foi respeitada, etc. Sim, pois no Brasil para saber se “foi ou não golpe”, se estamos vivendo tempos perigosos ou não, se Bolsonaro é ameaça ou não etc., “tem que ver a parte jurídica”;

13. O problema, tanto lá, quanto cá, era político e econômico, não jurídico. A análise não se dá a partir das funções ou do momento jurídico do regime político, mas sim da relação de forças das classes sociais no interior desse mesmo regime, do deslocamento de forças dessas mesmas classes, etc.;

14. Trotsky escreve: “Na hora em que o nazismo subir ao poder, a obra do fascismo italiano parecerá uma obra benemérita. O nazismo passará como um tanque de guerra sobre a espinha dorsal da classe operária";

15. Hinderburg morre. Hitler se antecipa e “baixa” um decreto emergencial (Medida Provisória da época) de plenos poderes. Avoca para si o Poder do Parlamento e começa a liquidar seus adversários políticos;

16. Um por um. Não todos de uma vez (quem conhece um pouco de política e história deveria saber que sempre é assim, como no poeminha aquele, “Primeiro levaram os comunistas, mas não falei nada porque não era comunista, etc. etc., etc., até que um dia vieram me buscar, etc., etc., etc.");

17. Hitler contrata um maluco para pôr fogo no Reichstag (Parlamento Alemão). Bota a culpa nos comunistas;

18. Hitler baixa um novo decreto, “Lei do Reichstag”, colocando o KPD na ilegalidade;

19. Hitler prende toda a direção do KPD e desmantela brutalmente o Partido;

20. Hitler começa a aniquilar vários membros da burguesia que anteviram que a coisa não só era “selvagem” (pois a burguesia nunca se incomodou com selvageria), mas sim INCONTROLÁVEL. Talvez a mais notória vítima desse período tenha sido o megaindustrial siderúrgico Fritz Thyssen, um dos donos do que mais tarde viria a ser a Thyssenkrupp. Fritz Thyssen era, originariamente, filiado ao Partido do Centro Católico. Filiou-se ao Partido Nazista. Depois, quando viu “o que estava por vir”, escreveu um livro denunciando Hitler, “azulou” para a França e tentou fugir para a Argentina, mas foi apanhado pela Gestapo e executado;

21. Hitler começa a se livrar, pouco a pouco, da ala “radical” do nazismo, matando parte do próprio alto comando nazista, ou seja, o cidadão matava gente da própria extrema-direita;

22. Hitler cria o primeiro Campo de Concentração, em 1934. O campo de concentração de Dachau. As pessoas pensam que os campos foram criados pensando nos judeus. Não. Foram criados para os opositores políticos do regime, principalmente os comunistas. Apenas depois foram utilizados para matar os judeus;

23. Hitler termina de liquidar o KPD. Depois, liquida os outros partidos (que pensavam que não aconteceria nada com eles.. novamente invoco o poeminha “aquele”);

24. Feita a limpa na oposição, Hitler decide que chegou a hora de liquidar de vez (no episódio conhecido como “A Noite das Facas Longas”, em alemão Nacht der langen Messer, ou “Noite dos Longos Punhais”) com a ala radical do nazismo. A milícia paramilitar de capangas e brutamontes que o ajudou a chegar ao poder. Sua “Seção de Assalto”. A S.A. (em alemão “Sturmabteilung”, "Destacamento Tempestade");

25. Hitler pensava: “Tem uns caras dentro desse negócio aí que são mais doidos até que eu, meio anarquistoides etc., melhor eu ficar esperto”. Então ele cria outro destacamento. Uma tropa de proteção. A SS ou ϟ ϟ em alfabeto rúnico (em alemão "Schutzstaffel", em português, literalmente, "Tropa de Proteção"), composta apenas com os seus amiguinhos “de verdade”;

26. Hitler percebe o descontentamento da S.A. e seu líder, Ernst Röhm (homossexual assumido de público, o que, para Hitler, já era motivo suficiente de merecer seu escárnio pessoal), pois Röhm – que já tinha matado muitos comunistas, judeus, velhinhos, mulheres e crianças, ou seja, era só outro f.d.p., apenas um pouco mais lunático que seu chefe – começa a desafiá-lo. Hitler pensa: “Esse pessoal é meio anarquistinha demais para o meu gosto e estão percebendo que irei fazer um governo de pacto com as Forças Armadas e com a burguesia. E que estou os escanteando, pois não preciso mais deles mesmo. Melhor me antecipar.”;

27. Hitler convida esse pessoal para uma orgia com muitas “dorgas” num laguinho (tipo uma festa rave, uma “Sunset Sessions” da vida... quem é de Santa Maria sabe o que é “Sunset Sessions”), pois sabia que esse pessoal - que, repito, Hitler considerava “mais esquisito” que ele próprio - era dado a um bacanal caliguliano, vícios em psicotrópicos pesados e essas parafernálias aí. Pois bem. No meio do “bem bom” da “Sunset” entra a SS e fuzila todas as lideranças da S.A. Hitler reintegra o restante - inofensivo – às fileiras das Forças Armadas;

28. REBOBINANDO A FITA EM ALGUNS ANOS. De meados até o final da década 1920, o KPD (em alemão “Die Kommunistische Partei Deutschlands”, em português “Partido Comunista da Alemanha”) contava com cerca de um milhão de militantes. Era mais ou menos do tamanho do Partido dos Trabalhadores (PT) brasileiro. Era parecido com o PT? Não. O PT é um partido de parlamentares. O KPD era um partido de parlamentares e militantes, muito melhor organizado que o PT, com um programa muito mais definido e racional, bem como um quadro de militantes com formação marxista sólida e avançada.

29. Em 1927/1928, os “jênios” da III Internacional - sob a presidência de Zinoviev e, acima, Stalin - fazem uma “análise” de conjuntura internacional que dizia mais ou menos o seguinte: teria havido um 1º período revolucionário mundial, ocorrido entre 1917 até 1924. Depois veio um 2º período, chamado de “período de estabilização”, que se estendeu dos anos 1924 até 1928. E a partir de 1928 iniciar-se-ia um 3º período, um novo período revolucionário – um período revolucionário “vitaminado”. O período da “revolução iminente”, ou seja, que a revolução proletária poderia acontecer em qualquer lugar, a qualquer hora. Bastava acender um fósforo e esperar um tempinho pois a revolução irromperia, irremediavelmente, em algum lugar;

30. Essa “teoria” já não era muito nova dentro da esquerda dita revolucionária da época. Hoje não preciso nem dizer que está caduca. É uma teoria meio anarquista, etc;

31. O “esqueminha” não estava de todo errado, mas as conclusões eram absolutamente arbitrárias;

32. O “esqueminha” dos “jênios” da III Internacional concluía, basicamente, o seguinte: 1º) Que durante esse 3º período havia que se adotar uma política e discurso “muito” revolucionários; 2º) Que todas as forças que não fossem o KPD deveriam ser consideradas “de direita” -inclusive o SPD (Partido Social-Democrata). Todos os partidos seriam burgueses, existiria uma fascistização de todos os partidos políticos, inclusive o SPD, que virou, para esses, repito ao infinito, “JÊNIOS”, “Partido Social-Fascista”;

33. Nesse momento, Trotsky identifica o "stalinismo" como uma “burocracia centrista”. Burocracia centrista quer dizer que os caras oscilavam sua política, discurso e cálculos da direita para a esquerda de forma meio que porralouqueadamente, ao sabor do momento, etc.;

34. Após a morte de Lenin, segundo Trotsky, a URSS e a III Internacional adotam uma política centrista. E “oportunista”. E isso teria conduzido, segundo ele, a uma série de desastres políticos: 1º a Revolução Alemã de 23 – PSI fica com medo de lançar uma insurreição e declarar Guerra Civil à República de Weimar, pois a União Soviética, por decisão final do Secretário-Geral do PCUS, resolve não mobilizar suas tropas para a fronteira e intervir militarmente em favor dos insurretos. A insurreição fracassa. Sobre isso, Trotsky prediz:

“Revolução e Contrarrevolução na Alemanha”, livro de Leon Trotsky.

16 - A vitória do fascismo na Alemanha determinará inevitavelmente uma guerra contra a U.R.S.S. Seria de fato uma verdadeira estupidez política pensar-se que os nacional-socialistas alemães, chegando ao poder, começassem por declarar a guerra à França ou, pelo menos, à Polônia. Uma guerra civil inevitável contra o proletariado alemão entravará fortemente o fascismo em sua política exterior durante todo o primeiro período de sua dominação. Hitler terá tanta necessidade de Pilsudsky quanto Pilsudsky de Hitler. Ambos se tornarão na mesma medida os instrumentos de ação da França. Se neste momento o burguês francês teme a tomada do poder pelos fascistas alemães, como um salto no escuro, não é menos certo que, no dia da vitória de Hitler, a reação francesa, "nacionalista" ou radical-socialista, se apoiará inteiramente no fascismo alemão. Nenhum dos governos burgueses "normalmente" parlamentares pode por enquanto correr o risco de empenhar-se numa guerra contra a U.R.S.S.; semelhante empreendimento acarretaria incalculáveis complicações internas. Mas, se Hitler chega ao poder, se esmaga em seguida a vanguarda proletária alemã, se pulveriza e desmoraliza por muitos anos o proletariado em conjunto, o governo fascista será o único capaz de fazer a guerra à U.R.S.S. Neste caso, agirá, bem entendido, em contato com a Polônia e a Romênia, com outros estados limítrofes e, no Extremo Oriente, com o Japão. Numa empresa dessas, o governo de Hitler não seria senão o órgão executivo de todo o capitalismo mundial. Clemenceau, Millerand, Lloyd George, Wilson, não puderam fazer abertamente a guerra à República dos Sovietes, mas puderam, durante três anos, sustentar os exércitos de Denikin, de Koltchak, de Wrangel. Hitler, no caso de ser vitorioso, tornar-se-ia um super-Wrangel da burguesia mundial. Não se trata de adivinhar (o que, aliás, seria impossível) como terminaria um conflito de tão formidáveis dimensões. Mas é absolutamente claro que, se fosse declarada pela burguesia mundial uma guerra aos sovietes, depois da ascensão dos fascistas ao poder da Alemanha, isso resultaria em um terrível isolamento para a U.R.S.S., que teria de lutar não para viver, mas para escapar à morte nas condições mais penosas e perigosas. O esmagamento do proletariado alemão pelo fascismo, por si só, comportará, pelo menos, um semidesmoronamento da República dos Sovietes.

Seguindo de onde parei antes da citação: 2º a Inglaterra, 1925. Um acordo entre os soviéticos e a burocracia sindical inglesa enterra a greve geral dos trabalhadores ingleses; 3º a Revolução Chinesa de 1927. E por aí vai;

35. Passada essa série de fiascos a burocracia “stalinista” (sic) corta a cabeça da própria direção, digamos, “mais centrista-oportunista” e dos zinovievistas pertencentes ao séquito do Presidente da III Internacional (que, em última instância, não tomava nenhuma decisão sem antes consultar Stalin, enfim);

36. Então resolvem dar uma guinada “à esquerda” para tentar corrigir as cagadas anteriormente feitas;

37. Mas-apesar-porém-todavia, entretanto-mesmo assim-no-entanto-não-obstante-contudo, como todo grupo centrista, os caras permaneciam em seu movimento pendular: ora um pouco mais à direita, ora à esquerda, ora uma posição bem revolucionária, etc., sumarizando: mais perdidos que cusco em tiroteio e totalmente bêbados;

38. Quando estão no curso dessa política “jeniau”, começa o avanço do nazismo na Alemanha;

39. Como já explicado, o KPD cresce, mas não no mesmo ritmo da tendência nazista;

40. Qual foi a proposta de Trotsky? A proposta de Trotsky foi a de que o KPD, naquele momento, precisaria de uma política “defensiva”, para depois lançar uma contraofensiva aos nazistas. Comunistas e social-democratas deveriam se unir em uma Frente Única Operária, unir seus respectivos sindicatos, formar milícias populares paramilitares (sei que o KPD tinha uma armada até os dentes, não sei o SPD, mas enfim, esses partidos possuíam recursos para isso, e a União Soviética deveria contribuir, é claro), aquela coisa toda, etc., para derrotar o nazismo e, então, aspirar a tomada do poder. Passar-se-ia, com isso, de uma situação onde a contrarrevolução nazista estava na ofensiva; derrotar-se-ia, primeiramente, a ofensiva nazista. Uma vez derrotados os nazistas e experimentados os comunistas e social-democratas “na guerra”, lançar-se-ia uma contraofensiva e o poder seria tomado pela classe operária alemã, enterrando em definitivo qualquer possibilidade da chegada de Hitler ao poder;

41. Qual foi a política proposta e imposta pelos "jênios" da III Internacional? Uma política eleitoreira, pequeno-burguesa. COM ISSO, OS DIRIGENTES DO KPD COMEÇARAM A PENSAR QUE TINHAM DE PROGREDIR ÀS CUSTAS DO SPD E DO RESTANTE DA ESQUERDA – que, repiso, seria toda ela “direitista”;

42. Não só rejeitaram todo tipo de aliança com a social-democracia como atacavam a social-democracia. Pasmem: muito, mas muito mais que OS PRÓPRIOS NAZISTAS. Pior: JUNTO COM OS NAZISTAS;

43. Os nazistas, que eram loucos, porém não totalmente burros, percebem a “intriga” e decidem que era preciso vencer o SPD no seu principal reduto eleitoral, a Prússia. Chamam um “voto de desconfiança” no Parlamento. Dão o nome de “Plebiscito Marrom”. Os principais dirigentes do KPD não só apoiam como nominam de “Plebiscito Vermelho”;

44. No final das contas a social-democracia da Prússia sofre uma Intervenção Federal em 1932. Esse foi o último episódio necessário para a ascensão do nazismo na Alemanha. Uma política criminosa, capitulacionista. E totalmente suicida, capitaneada por uma direção centrista e uma militância levada à confusão, se deslocando da esquerda para a direita como um “cavalo viking” de parque de diversões, sem um ponto de equilíbrio racional, programático, etc., que vai pra lá e pra cá sob a influência dos “últimos acontecimentos”;

45. Qual era o sentido dessa política?;

46. O sentido era esse: achavam que tinham que progredir às custas da esquerda, mesmo sem uma política definida que visasse, em definitivo, o progresso da classe operária alemã – nem entendiam isso, na realidade;

47. O negócio era a competição. E no final ninguém ganhou nada;

48. Por que alguém que se diz marxista faria isso aí? Achavam que iam mudar a história do povo alemão assacando contra o adversário social-democrata, em um cenário conturbado como esse aí, ascensão do nazismo, etc.?;

49. A resposta é simplória: eles não eram marxistas. Eles eram malucos. Esse tipo de tendência, de comportamento, etc., não é coisa de marxistas. É coisa de pequeno-burgueses malucos que não estudaram e não compreenderam a contento alguns textos básicos de Marx e Engels – e algum material de apoio, como o “Manual de Materialismo Dialético”, editado pela Academia de Ciências da URSS (argh), que fiz a mão de ler quando era metido a militante do PCB. É bem bom. O negócio deles era a competição pura e simplesmente... pela competição;

50. Moral da história:

1º: Esta direção paulista (sempre, sempre, sempre centrista, desde sempre centrista) do PT está copiando a estratégia do “terceiro período” dos comunistas alemães, de nove décadas atrás;

2º: Essa política não é uma “peculiaridade”, é uma MENTALIDADE. Só muda de endereço. Estão esperando paralisados vendo “se dão sorte”. Mas não darão, pois o script já está dado e ainda existem leis de desenvolvimento "desigual e combinado” (Novack) da História e, negando o caráter objetivo das leis da História, “caotizando” a História, com ações arbitrárias e impensadas, esses projetos de intelectualoides uspianos do PT sangrarão o povo brasileiro novamente (já não bastasse o que fizeram em 1989..);

3º: Tem que parar com esse papo furado de que o que está acontecendo no Brasil é “golpe institucional”;

4º: Tem que parar com essa mania sádica de ter que ver muita desgraça acontecendo parar tirar conclusão das coisas – para concluir se o momento em que vivemos é bem problemático ou não, se é bem perigoso ou não, etc.;

5º: Tem que parar com essa ilusão estúpida e complicada de que a burguesia brasileira está imbuída de um profundo espírito democrático. Eles agem conforme a conveniência deles. Querem ver o povo passando fome, sede e morrendo;

6º: Tem que parar de pensar que grupos milicianos de direita não existem e não estão organizados. Isto é uma falsa percepção da situação. Se olharmos direito para a sociedade brasileira veremos não apenas o Exército, as Polícias Militares, as Guardas Civis Metropolitanas, enfim, o aparato institucional. Temos milícias “prontas” que respondem a empresas particulares de segurança privada, a urubuzada que faz segurança em metrôs, casas noturnas, estádios de futebol. Os seguranças das fábricas, os capatazes do latifúndio. Isso aí para virar num grupo fascista de assalto à la S.A. é um pulo, “pois o fascismo está em todo lugar na sociedade” (Trotsky). As milícias não precisam ser organizadas: ELAS JÁ EXISTEM. No momento em que os caras precisarem, colocam isso aí em movimento do dia para a noite. Só falta um objetivo político. Que está aí;

7º: Tem que parar de fazer análise política lendo a Zero Hora, Correio do Povo, Folha de São Paulo, vendo Globo News, Jornal da Bandeirantes, etc.;

8º: Tem que parar de “argumentar” com aquela risadinha e ar de superioridade, como vejo muita gente fazendo por aí, que o Sr. Jair Bolsonaro é um troglodita, caricato, esquisito, louco, que seus apoiadores são uns caras muito estranhos. É assim mesmo. Não precisa ser sério para ser perigoso. E não quer dizer que porque eles são caricatos, loucos ou uns verdadeiros palhaços que esses palhaços são inofensivos. Eles são palhaços muito perigosos. “É” palhaço de filme de terror, não de circo, amigos. O Bolsonaro é ridículo, mas não quer dizer que não seja perigoso. A hora que um ridículo desses com poder na mão começa a agir esses mesmos que o ridicularizam agora vão parar de dar risada. E achar simplesmente sinistro;

9º: O próprio Hitler era uma figurinha caricata. Histérica. Topetinho empastado. Quem vê algum discurso do cara se dá conta de que não era nenhuma figura impressionante discursando, do ponto de vista conteudístico. É uma personagem completamente histérica. O Mussolini também era engraçado, com a agravante ou atenuante de que parecia mais masculino;

10º: Tem que parar com essa RIPONGUICE de “cultura do amor vs cultura do ódio”. Se “essa gente” quiser resolver os problemas pela violência, têm que ser combatida energicamente. “Ain, não, é a cultura do ódio, vamos apelar para a ditadura do amor”. Olha, bicho, se a gente continuar com isso de cultura do ódio vs cultura do amor nós vamos é apanhar, mas vamos apanhar muito, hein. Vocês gostam de apanhar? Na cama não vale;

11º: Está muito claro para qualquer analista sério que alguma – eu diria boa – parte da burguesia brasileira apoia o candidato Jair Bolsonaro. E qualquer analista sério, olhando a situação na América Latina, não precisa de muita imaginação para saber o que pode acontecer;

12º: Obviamente, pela extensão e, principalmente, irrelevância do assunto, quase ninguém lerá este post e talvez ele caia em ouvidos totalmente surdos. De qualquer forma, não adianta alguém ler isto aqui até o final se considera o Syriza e o Podemos “extrema-esquerda” porque os dirigentes do Syriza fumam maconha e vão na reunião de gabinete sem gravata, e porque o carinha lá do Podemos usa rabo de cavalo;

13º: Se alguém, por ventura, ler este post e achar que estou delirando, foda-se, pois fui a primeira pessoa do meu círculo de amizades que declarou, após a entrevista lá do Snowden, em 2013 – e das tais “Jornadas” -, dizendo que a NSA, a CIA e o FBI estavam grampeando “há horas” a Petrobrás e a própria presidência da República, que haveria um golpe de Estado no Brasil, nos moldes do “novo” Manual da CIA para Desestabilização de Governos na América Latina – um cara do PCdoB de Santa Maria me passou esse troço uma vez em PDF, deve estar no meu e-mail. E a editora da USP andou publicando isso aí, salvo engano;

14º: A partir de hoje, em meu Facebook, só falarei de música, futebol e mulheres bonitas;

15º: Votem em... quem vocês quiser, bicho, menos no Bolsonaro.

V - APÊNDICE: BREVES NOTAS SOBRE O MARXISMO LATINO-AMERICANO NO ATUAL ESTÁGIO DE DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO MUNDIAL.

“hay que llevar la guerra 
hasta donde el enemigo la lleve: 
a su casa, 
a sus lugares de diversión: 
hacerla total (...). 
entonces su moral 
irá decayendo. 
se hará más bestial todavía, 
pero se notarán los rasgos 
del decaimiento 
que asoma (...) 
Crear dos, tres... muchos Vietnam 
es la consigna.”


(GUEVARA, Ernesto “Che”. Mensagem aos povos do mundo através da Revista Tricontinental, Bolívia, 1967. Existe uma tradução – muito ruim – disponível para o português aqui)


Comandante Ernesto Guevara discursando durante Plenária do Conselho Interamericano e Social da OEA. Punta del Este, agosto de 1961.

O redator se encontra na casa de seus pais (os amigos do redator sabem que o redator não é supersticioso).

Pois bem.

Situado à minha frente, o livro "Canto General", melhor livro de Neruda (que Che Guevara carregou em sua mochila até seus últimos dias na Bolívia).

O redator pensa que isto é muito louco.

Enfim.

O redator destas notas é marxista.

O redator destas notas é guevarista.

Guevarismo é uma vertente do marxismo.

O ponto mais alto do marxismo latino-americano, no entendimento do redator destas notas.

Por quê?

O redator destas notas frequentemente se depara com “camaradas” que nutrem uma grande admiração por Ernesto Guevara, mas, ao mesmo tempo, uma grande subestimação.

Usam camiseta vermelha – de algodão, poliéster ou elastano, ou só os dois primeiros juntos, ou só os dois últimos, ou os três todos - com seu rosto estampado, conhecem bem a estampa, mas falam, de forma meio academicista, “foi um grande guerrilheiro, um grande combatente, mas de marxismo não entendia muito”.

Ledo engano.

A estes, Spninoza: “Ignorantia non est argumentum”.

Penso ser a tradução dispensável.

O redator confessa que perdeu sua paciência com vigaristas intelectuais, de esquerda ou de direita - principalmente da esquerda, campo ao qual pertence.

O redator entende que todas as virtudes são relativas, inclusive a tolerância.

O redator lembra Marx dizendo que Jeremy Bentham era “o gênio da estupidez burguesa”.

Bons tempos, aqueles.

Hoje, a estupidez burguesa só consegue produzir, com muito esforço, um... enfim, deixa pra lá.

O redator entende que entender por que foi possível a figura de Ernesto Che Guevara é, talvez, começar a entender parte de nossa conflitiva realidade latino-americana.

O que há, no entendimento do redator, é um desconhecimento total dos seus “camaradas” brasileiros sobre o pensamento de Ernesto Guevara enquanto formulador teórico do marxismo.

Sobre isto, o redator remete o leitor amigo a artigo amadorístico escrito por ele quando mancebo estudante de Direito da Faculdade de Direito de Santa Maria/RS, “Che Guevara e o indivíduo socialista”. Disponível em: http://acccccidie.blogspot.com/2011/03/che-guevara-e-o-individuo-socialista.html

O redator também remete o leitor amigo a artigo profissional escrito por Néstor Kohan, “El Che desconocido”. Disponível em:
https://marxismocritico.com/2012/10/12/el-che-desconocido/

O redator também remete o leitor amigo a ensaio profissional escrito por Michael Löwy, “A herança de Che Guevara”. Disponível em: http://csbh.fpabramo.org.br/o-que-fazemos/editora/teoria-e-debate/edicoes-anteriores/ensaio-heranca-de-che-guevara

O redator também remete o leitor amigo ao livro profissional escrito pelo mesmo Michael Löwy, “O pensamento de Che Guevara”. Disponível para compra neste link: https://www.estantevirtual.com.br/livros/michael-lowy/o-pensamento-de-che-guevara/826209087

Finalmente, para não torrar a paciência do leitor amigo e, principalmente, do próprio redator, convido o leitor amigo a conhecer o “Proyecto Editorial Che Guevara”, da editora “Ocean Sur” em parceria com o “Centro de Estudios Che Guevara” de Havana. Disponível aqui: http://cheguevaralibros.com/web/es/

Os manuscritos de Ernesto Guevara foram reconhecidos como patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO em 2013.

O redator pensa que o legado de índole moral, ética e comportamental de Che é muito importante.

Mas seu magistério teórico não só é menos importante, como absolutamente atual e fundamental.

O redator crê que, antes de laudatórios, de homenagens, devemos começar a organizar de maneira paralela uma séria e dedicada retomada de discussão sobre seu pensamento, suas propostas, assim como seus valores.

Mais reflexão e menos homenagens.

Pois, como disse Fidel Castro, em discurso na Praça da Revolução, após o anúncio da morte de seu amigo Guevara: “(...) Escribía con la virtuosidad de un clásico de la lengua. Sus narraciones de la guerra son insuperables. La profundidad de su pensamiento es impresionante. Nunca escribió sobre nada absolutamente que no lo hiciese con extraordinaria seriedad, con extraordinaria profundidad; y algunos de sus escritos no dudamos de que pasarán a la posteridad como documentos clásicos del pensamiento revolucionário”.

De um lado, o Guevara teórico conseguiu escapar do excepcionalismo indo-americano que, ao absolutizar a América Latina (sua cultura, história, ou estrutura social) colocou em questão o próprio marxismo como produto da cultura europeia, tornando-a presa fácil do populismo.

De outro, também conseguiu superar o eurocentrismo que, ao absolutizar determinado marxismo como conhecimento absoluto, propunha alcançar por etapas a redenção socialista, seguindo outros países.

Desta forma, considero que Che Guevara foi um dos poucos – entre os dirigentes revolucionários que participaram de uma revolução vitoriosa e ocuparam importantes cargos governamentais, talvez o único – dos pensadores latino-americanos que, mantendo-se marxista, soube nacionalizá-lo e regionalizá-lo, combinando a análise marxista com a realidade latino-americana, superando tal dilema e produzindo obra e atuação originais.

Sua originalidade como pensador reside na superação dos falsos dilemas - localismo x universalismo; teoria x prática; marxismo x América Latina.

Por isso, entre outras razões, a obra do Che merece destaque e tem grande relevância.

Guardiães da memória, sejamos também guardiães da obra de Che!

Ok.

Superada esta questão preliminar, o redator pensa ser necessário colaborar com alguns apontamentos sobre o marxismo, já que escreveu o presente artigo para um espaço marxista.

O que é marxismo?


"Seja-me permitido aqui um esclarecimento pessoal. Recentemente aludiu-se por várias vezes à minha quota-parte nessa teoria e, portanto, eu não posso deixar de dizer aqui as poucas palavras que arrumam este ponto. Eu próprio não posso negar que, antes e durante a minha colaboração de quarenta anos com Marx, tive uma certa quota-parte autónoma, tanto na fundação como, nomeadamente, na elaboração da teoria. Mas, a maior parte dos pensamentos diretores fundamentais, Particularmente no domínio económico e histórico, e, especialmente, a aguda formulação definitiva dela, pertencem a Marx. Àquilo com que eu contribuí, também Marx podia — quando muito, excetuando alguns ramos especiais — ter muito bem chegado sem mim. Ao que Marx realizou, eu não teria chegado. Marx estava mais acima, via mais longe, abarcava mais e mais rapidamente, do que todos nós, os outros. Marx era um gênio, nós, os outros, no máximo, talentos. Sem ele, a teoria não seria hoje, de longe, aquilo que é. Ela tem, portanto, também com razão, o nome dele." (Friedrich Engels, "Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã", 1886)

Em primeiro lugar, o marxismo é uma filosofia da práxis que implica uma concepção do mundo, da vida, do sujeito, da vida, centrada no conflito, não na harmonia.

O conflito não é uma anomalia.

O conflito não é introduzido na terra por “anjos ou demônios”, não.

O conflito está no coração mesmo da História.

A história humana é a história do conflito.

Em segundo lugar, o marxismo é uma teoria crítica dessa mesma história humana do conflito.

Uma teoria crítica do passado, mas também do presente, posto ser uma crítica do mercado.

Jean-Paul Sartre disse por aí, como bem pontuado por David Emanuel De Souza Coelho, que o marxismo é a filosofia insuperável de nosso tempo. O marxismo é a filosofia insuperável porque proporciona a compreensão mais radical e avançada de nossa época.

Como toda boa filosofia, une teoria e prática em um todo, alicerçando princípios éticos a uma robusta ontologia.

Na sociedade de classes, o marxismo representa o auge filosófico, pois elucida, por completo, as bases da própria sociedade ao mesmo tempo mostrando seu esgotamento histórico.

Por isso, em nossa época, a época do esgotamento da sociedade de classes, não como ir além do marxismo.

Apenas quando terminar esta sociedade, inaugurando nova época histórica, será possível surgir uma nova filosofia, da qual por agora praticamente nada podemos antever.

E, enquanto o capitalismo existir, o espectro de Marx (Derrida) tende a permanecer oprimindo o cérebro dos vivos.

Afinal, relembrando Sartre, se ainda não se esgotaram as consequências que fizeram surgir o marxismo - ou seja, as potencialidades do regime capitalista -, ele (o marxismo) permanece como a insuperável filosofia do nosso tempo.

Mas se para Derrida o fantasma ainda está por vir - tratar-se-ia, no momento, de uma aparição espectral, uma mera imagem perdida nas sombras -, nada impede que esse espírito encontre sua materialização num futuro não muito distante.

Aí já não mais fará sentido "interpretar o sentido do ser" (tarefa a que se propunha o razoável picareta Martin Heidegger, ao anunciar sua "ontologia fundamental" (sic total), mas transformá-lo.

Sob esse aspecto é bem mais coerente o diálogo contido no livro de Charles Dickens "O homem e o espectro":

- Por que é que assim me persegues?
- Eu venho quando me chamam - tornou o espectro.
- Não, tu vens sem ser invocado - exclamou o químico.
- Sem ser invocado, seja.
- Isso pouco importa. O fato é que estou aqui.

O fantasma abandona, portanto, sua essência "plasmática" para se reafirmar como Dasein social (sic).

Hamlet cede lugar a Redlaw; Dickens substitui Shakespeare. MARX SUBSTITUI HEIDEGGER.

O "ser" (não o de Heidegger, mas o SER SOCIAL, de Marx), então, poderá estar aí, em toda sua verdadeira presença.

Espectros de Marx. Livro de Jacques Derrida.

Em terceiro lugar, o marxismo é uma teoria que implica uma prática.

Não é só uma teoria.

Não é conjunto de livros.

E não é só uma teoria.

É uma prática de vida.

É uma vinculação dos grandes relatos históricos com a vida cotidiana das pessoas.

É um grande relato teórico, com hipóteses de grande teor explicativo, mas é também uma filosofia de vida.

O marxismo é uma filosofia da vida cotidiana.

Se não for isto, ele vira, o próprio marxismo, apenas mais uma mercadoria.

Acadêmica.

“Qual é minha capacidade de intervenção na vida cotidiana do povo?”

Esta, para o redator, é a primeira questão que todo marxista deve se colocar diante de si, antes de abrir qualquer livro de ou sobre Marx.

Do contrário, o marxismo se converte em mero objeto de consumo universitário.

E hoje existe “muito marxismo” que virou apenas isto: objeto de consumo acadêmico, apenas outra mercadoria (o primeiro autor que o redator conhece ter tretad, digo, tratado do tema foi o historiador britânico Perry Anderson, que, em seus estudos críticos sobre o “marxismo ocidental”, afirma, resumidamente, que, após as derrotas dos movimentos comunistas nos anos 1930 para os movimentos fascistas na Europa, o marxismo virou isto, uma teoria super erudita, super esquisita, super “prafrentex” (sic), com uma linguagem universitária muito refinada, porém sem nenhum apelo popular, praticamente incompreensível ao homem comum do povo).

Isto não é marxismo.

Marxismo é unir as grandes hipóteses com uma prática de vida.

Unir as grandes concepções + normas práticas de ação, na fórmula gramsciana.

Isto é o marxismo.

Isto é ser marxista.

Em terceiro lugar (penso que adiantei um pouco no segundo lugar), o marxismo é uma ética – em sentido lato -, onde a teoria se liga com normas de conduta.

Normas de conduta práticas.

Não basta ler Marx, há que se atuar como Marx.

Se não se faz isso, não se é marxista.

Assim como, por exemplo, no entendimento do redator, não basta ler os Evangelhos do Novo Testamento, ir à missa todo domingo, mas não atuar como dizem que Jesus de Nazaré atuou.

Neste particular, o redator pensa que o guevarismo é o ponto mais alto do marxismo latino-americano, pois Ernesto Guevara elevou ao máximo o marxismo como isso: ciência do exemplo.

Che, o maior dos cientistas do exemplo.

O guevarismo, partindo deste ponto de vista, é o mais radical dos pontos de vista dentro do marxismo latino-americano, no sentido de unir o conhecimento da teoria com o esforço de colocá-la em prática na vida cotidiana.

E isto exige um compromisso ético muito alto, já que vivemos em uma sociedade mercantil.

Este tipo de conduta prática, cotidiana, com um alto grau de exigência não é fácil.

Não é fácil e não tem idade.

Está prática, este comprometimento, este compromisso não se perfaz apenas aos 20 anos.

Não se pode, definitivamente, encarar militância política como rebeldia adolescente, a qual o sujeito se permite aos 20 anos e aos 30 já começa a tratar como um pecado juvenil, como um conjunto de anedotas a ser contado repetidamente em rodas de cervejas com os amigos, na esquina de uma “Rua dos Cataventos” (Mario Quintana) qualquer.

Não é um problema de hormônios, biologia, fisiologia.

Não é busca de adrenalina. Não é um pecado juvenil.

É um compromisso de vida.

Em quarto lugar, é um dever-ser histórico do sujeito, concreto, do dia a dia.

Por isso, o guevarista está a léguas de gente “boa”, “esquerdosa”, “progre” (progressista), mas que vive sua vida de maneira absolutamente esquizofrênica.

Adere a uma grande teoria muito radicalizada, mas sua própria vida está completamente distante disso.

E essas pessoas não veem nenhum problema nisso.

É um dualismo aderir uma teoria e viver sua vida de outra forma.

Para o guevarismo, esta é a ruína completa do homem enquanto homem.

Ter uma dupla vida.

Ou tripla.

Ou quádrupla.

E por aí vai.

Ter várias “faces”.

Ser um tipo de pessoa em casa, outra nos estudos, outra no trabalho, outra “na sociedade”, etc.

Não.

O marxismo de tipo guevarista implica um alto grau de exigência de não se ter uma dupla vida, ou tripla, ou quádrupla.

De ter – e ser - “duas caras”, para usar o bom português.

De se portar de uma maneira em determinado modo em um local, e em outro se portar de maneira diversa.

É levar, humildemente, honestamente, o pequeníssimo grão de areia que podemos aportar ao povo que for, e tratá-lo de levá-lo cotidianamente à prática.

O guevarismo eleva isto a um nível teórico sem precedentes dentro do marxismo.

A coerência entre hipóteses políticas, leituras, projetos de vida... e a própria vida cotidiana do sujeito.

É impossível para um autêntico guevarista viver segundo “conveniências”, “oportunidades”, “situações”.

Resumindo: é impossível para um autêntico marxista, sob o prisma guevariano, viver e transformar sua vida em uma eterna “política da boa vizinhança”, para “não se incomodar”.

E isto é muito difícil de fazer atualmente, pois, repito, vivemos em uma sociedade totalmente hostil a este modo de vida.

De modo que, quem consegue, de uma forma ou de outra, com muito esforço, viver assim nos dias de hoje, pode-se considerar um verdadeiro marxista.


“Nuestros ojos libres hoy son capaces de ver lo que ayer nuestra condición de esclavos coloniales nos impedía observar que la civilización occidental esconde bajo su vistosa fachada un cuadro de hienas y chacales” (CHE).


VI – Últimas Palavras

"não há nada
de mais profundo
do que aquilo
que aparece
à superfície"
(atribuída a g.w.f. hegel)


“Quem se adoece de hegelianismo não se cura jamais” - Vladimir Safatle.
"O princípio do equilíbrio dos poderes do Estado é a expressão mais acabada do medo da humanidade diante de si mesmo" (Friedrich Engels).

Agora os caras vão começar a gastar baldes de tinta para "dizer" se teremos eleições ou não.

Se o sufrágio universal está em risco ou não.

Mais uma arapuca jurisdicista.

"Hello": o sufrágio, enquanto pilar da democracia no Estado "moderno" (burguês) já foi, na prática, anulado no Brasil em 2016.

Pior: essa revogação não veio através de uma nova constituinte, de uma "convulsão intestina" (guerra, revolução/contrarrevolução, revolta, rebelião, motim, etc.), como referiam os textos jurídicos antigos.

Veio de dentro da própria Constituição, o que é um movimento sutilmente muito mais malandro, sacana, maligno e preocupante.

Qual a postura intelectualmente honesta que os ditos juristas progressistas deveriam ter tomado a partir de então?

Gritado em alto e bom som: "[...] Jamais ocultamos isto: nosso campo não é o campo do Direito, é o campo da Revolução. O Governo, por sua vez, abandonou, agora, a hipocrisia do fundamento do Direito. Colocou-se sobre o campo revolucionário, pois também o campo contrarrevolucionário é revolucionário [...]" (MARX, Karl. "A Burguesia e a Contrarrevolução". Nova Gazeta Renana, 10 de dezembro de 1848).

Artigo de Luís Carlos Prestes publicado na imprensa às vésperas da promulgação da Constituição de 1988, em que é desmascarado o "poder militar", acima dos três poderes da República, consagrado no Artigo 142 da nova Constituição.

É de dizer: foi bom "brincar" de tecnicalidades, formalismos e ritos jurídicos... até onde deu.

Foi bom enquanto durou.

Mas não dura mais.

Não se sustenta mais.

O nosso terreno não é mais o terreno do direito.

O nosso terreno é, escrevendo ou na rua, o da política.

Já não basta a falta de organização, comunicacão quase inexistente e distância  intergalática entre altos (direções) e baixos (militâncias) cleros nos partidos de esquerda.

Já não basta a Globo, o oligopólio midiático imperialista, a desinformação e deformação sistemáticas. "A liberdade dos donos das empresas de imprensa".

Para "cerejar" o bolo é preciso entrar meia dúzia de catedráticos "progressistas" na parada para dar aquela imobilizadinha mais esperta ainda.

Quanto tempo mais continuaremos a nos iludir e iludir aqueles que, leigos de boa-fé, acreditam no pharmakon jurisdicista que lhes entregamos todos os dias?

Aliás, quanto tempo mais continuaremos a angariar likes, leitores, puxa-sacos de ocasião, prestígio individual fictício etc., às expensas da mentira perfeita, tocada por nós, como fazíamos quando crianças e queríamos adormecer ou distrair nossos irmãos, dando corda naquela caixinha de som de onde pulava uma pequena e elegante bailarina anestesiante?

Agora vou tomar meu vinhozinho.

Gabriel Arozi A. Abelin é advogado (OAB/RS nº 105. 527) e escreveu este opúsculo durante as comemorações do centésimo nonagésimo sexto aniversário da “Independência” (sic) do Brasil ouvindo rock argentino. Sou “do rock” (sic). O rock n’ roll dos Hermanos é muito superior ao nosso. Deixarei aqui apenas uma, de tantas coisas boas, ouvi nesta tarde/noite (agora faltam 5 minutos para a meia-noite), escrevendo isto aqui – que me deu uma trabalheira do cão. E uma tesão danada também. O título é uma adição de “Otra Vez”, diário de Ernesto Guevara sobre sua segunda viagem pela América Latina com “Aviso de incêndio”, título do livro do franco-brasileiro Michael Löwy acerca das “Teses” de Walter Benjamin.


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