Coletivo Espaço Marxista
outubro de 2017
A mídia tem divulgado que segundo pesquisas uma grande parcela da população brasileira é favorável a uma intervenção militar. Esse pleito não é novo, tendo aparecido em 2011 durante as famigeradas "Jornadas de Junho" (o que diz muito sobre aqueles dias, que inexplicavelmente seguem sendo romantizados por setores da esquerda pós-moderna) e ganhou fôlego com a recente declaração do general Antônio Hamilton Mourão, "sugerindo" uma quartelada diante da crise institucional e política do Brasil pós-golpe (civil, no caso). Mesmo nomes da esquerda parecem capitular ao pleito, depositando nos militares a esperança para se colocar fim ao desmonte e entrega dos recursos e empresas nacionais realizados pelo neoliberalíssimo governo de Temer.
Achamos um grave equívoco esperar algum resultado progressista de eventual intervenção militar. Sobretudo porque as Forças Armadas brasileiras não são progressistas. Continuam emulando o espírito de 1964, quando, alinhadas a Washington e ao capitalismo internacional, promoveram um regime de terror contra a esquerda e movimentos sociais (e lembremos o pouco falado genocídio indígena realizado pelo regime), à base de tortura, assassinato e cerceamento das liberdade democráticas. Mais de 40 anos depois continuam raivosamente anticomunistas e direitistas, do que é exemplo (de inúmeros) a nota do Clube Militar em 2014 declarando apoio a Aécio, o candidato capaz de "interromper a sovietização do Brasil"(!). Seu propalado "patriotismo" é de fachada. Não deram um pio durante as privatizações tucanas dos anos 90. E já publicamos no blog sobre os exercícios militares que os EUA realizarão na Amazônia em novembro, isto é, o "patriota" Exército Brasileiro entregando o "mapa da mina" (até no sentido literal) para os ianques.
É evidente que também a instituição militar tem contradições que podem ser utilizadas a favor dos trabalhadores e da luta contra a exploração de classes. No Brasil, Lamarca e Prestes são exemplos clássicos de militares de esquerda. A experiência da Venezuela Bolivariana é outro exemplo, estando lá a Fuerza Armada Nacional baseada em um forte espírito socialista e anti-imperialista e, portanto, verdadeiramente patriótico. Isso para não falar dos Estados Operários, como o cubano e o finado soviético (com o Exército Vermelho organizado por Trotsky), onde o trato militar está diretamente ligado ao internacionalismo proletário e à defesa da revolução. O caso brasileiro é completamente diferente. Somos um país de capitalismo tardio subordinado caninamente ao imperialismo. As Forças Armadas brasileiras refletem esse caráter de classe.
O Coletivo Espaço Marxista repudia, portanto, qualquer "quartelada"- seja sob o nome "golpe", "intervenção" ou qualquer outro eufemismo. Não que defendamos a quadrilha de Michel Temer ou a constituição burguesa que lhes dá guarida. Mas não acreditamos que as reacionárias Forças Armadas brasileiras possam trazer um desfecho progressista para o país. Pelo contrário, apenas a classe trabalhadora no poder pode colocar fim a esse nefasto governo e ao ciclo neoliberal em voga.