Coletivo Espaço Marxista
setembro de 2017
O recrudescimento da islamofobia é um dos sintomas da efervescente maré reacionária dos dias de hoje, do que são exemplo em nível mundial a eleição de Trump em 2016 nos EUA e a ida de Marine Le Pen ao segundo turno no pleito francês em maio deste ano. Em todo o Ocidente se disseminam agressões contra a população muçulmana, seja através de passeatas organizadas pela extrema-direita (como a recente marcha supremacista branca em Charlottesville, EUA) seja de ataques a mesquitas. Mesmo no supostamente tolerante Brasil os incidentes têm se repetido, como se viu na hostilidade ao ambulante sírio de Copacabana ou na manifestação movida pelo fundamentalismo cristão, também no Rio de Janeiro.
A islamofobia, como se vê, é um fenômeno claramente reacionário. É um caldeirão de ódio que agrega xenofobia e racismo. São sintomas claros de fascismo, porque em períodos de crise do capitalismo (como aconteceu na Europa dos anos 30), o discurso populista de direita terá como alvo prioritário o estrangeiro (que estaria "roubando" empregos, trazendo ideias estranhas para o país etc). O Brexit britânico, conforme entendemos, refletiu esse momento: o descontentamento da população (no caso, britânica) canalizado pela pauta de direita, caldo fértil para o discurso nacionalista canalha.
É preciso denunciar, também, a luta sectária inter-muçulmana. Ao contrário do que comumente se imagina, o mundo islâmico (que é muito mais amplo que o mundo árabe) é complexo e diversificado, abrangendo uma população de mais de 1,4 bilhão de pessoas pelo planeta. Evidentemente, portanto, haverá linhas, tendências e orientações das mais diversas, sobre as quais incidem questões históricas, culturais, idiossincrasias regionais etc. Tal pluralidade é positiva e rica, para nós, mas há os movimentos de cunho fundamentalista, muitas vezes literalistas quanto ao texto corânico e à sunna (tradição oral transmitida ao longo dos séculos), que são hostis aos demais, chegando às raias da eliminação física. É o caso de grupos como a Al Qaeda e ISIS (Daesh), que são partidários da interpretação wahhabista do Islã (movimento ultra-ortodoxo, ou supostamente ortodoxo, fundado pelo fanático Ibn Wahhab no século XVIII, em aliança com os Saud, que vieram a dominar o que hoje conhecemos como Arábia Saudita). Tais movimentos fundamentalistas são tradicionalmente utilizados pelo imperialismo com objetivos geopolíticos- por exemplo, como se viu no patrocínio ao talibã nos anos 80, contra a União Soviética, e aos grupos jihadistas contra os governos nacionalistas burgueses da Líbia e da Síria, nos últimos anos.
O Coletivo Espaço Marxista está incondicionalmente do lado dos povos oprimidos do mundo. Estamos portanto junto com as populações muçulmanas nas trincheiras de resistência contra o preconceito, o racismo e a islamofobia, e em especial conclamamos a solidariedade internacionalista para os refugiados das zonas de conflito. Igualmente, repudiamos as posições fundamentalistas dentro do Islã (seja na vertente sunita ou xiita)- são movimentos reacionários, que impedem o ascenso da consciência da classe trabalhadora nos países muçulmanos e que, como dito acima, são aproveitados pela direita internacional para implementar seus próprios interesses.