Coletivo Espaço Marxista
O governo golpista de Michel Temer "convidou" tropas estadunidenses para a realização de exercícios militares na região amazônica, em novembro deste ano. A operação "inédita", como as Forças Armadas brasileiras orgulhosamente têm colocado, vem em um momento quando os golpistas buscam terceirizar a vigilância do espaço amazônico, isto é, entregar à iniciativa privada uma tarefa altamente estratégica. É claro que não há coincidência nenhuma, ao contrário, isso reflete uma evidente opção político-ideológica do bloco que assaltou o Planalto: a submissão canina a Washington, em detrimento da construção de uma América Latina soberana nos marcos de um mundo multipolar.
Apesar de todas suas vacilações e contradições, os governos do PT foram marcados por uma política externa voltada para a integração regional e a construção de novos pólos de influência, do que são exemplo o foco no Mercosul e nos BRICS. Isso evidentemente contraria os interesses do imperialismo. Washington quer ser a força única em um mundo subordinado a seus interesses. Portanto, qualquer país que busque vias alternativas e independentes, ou que contrariem de alguma forma os interesses imperiais, como a Rússia, Irã, China, os Estados Operários de Cuba e Coreia, ou ainda a Venezuela bolivariana, são logo colocados no "eixo do mal" e tornados alvos de campanhas de difamação diária nos meios de comunicação (todos nas mãos dos bilionários grupos de direita). É uma campanha tão massacrante que aos olhos da grande massa do público (e da esquerda pequeno-burguesa, que em seus melindres pós-modernos é sempre influenciável pela mídia de direita) tais países se tornam mesmo vilões, como se fossem eles e não o imperialismo ianque, a máquina de guerra mais mortífera da História, a verdadeira ameaça para o mundo. Evidentemente o imperialismo não recorre apenas à mídia contra os países que lutam por autonomia e soberania: possui uma ampla gama de ferramentas, indo de boicotes econômicos à intervenção militar, direta ou através do patrocínio de "rebeldes", como no caso da Síria e anos antes na Líbia.
Tal caráter vacilante e ainda "vermelho" do PT, bem como a sua demora em aprofundar as reformas neoliberais, levaram à sua derrubada golpista pela direita internacional, interessada em colocar um aliado "puro sangue" no poder. A camarilha de Temer pôde, então, novamente realinhar o país geopoliticamente, colocando ninguém menos que o sorumbático tucano José Serra como chanceler, que no período em que ocupou a pasta (maio de 2016 a fevereiro de 2017) se indispôs agressivamente com os países vizinhos e, em articulação com a direita do continente, ajudou a suspender a Venezuela do Mercosul (é sintomático que a "Ponte para o Futuro" do PMDB previsse, na prática, o fim do bloco). A desfaçatez dos golpistas é tamanha que o atual chanceler, o reacionário Aloysio Nunes, ousa defender uma "saída democrática" para a Venezuela, que chama de ditadura, e acusa Maduro de ser golpista! Não há limites para a calhordice política e moral da direita brasileira.
Portanto devemos entender o "convite" às tropas ianques ao território nacional dentro desse contexto geopolítico. Ironicamente, a malta de coxinhas batedores de panela, que enxergavam nos médicos cubanos uma "ameaça à soberania nacional", não soltam um "pio" acerca da presença de militares estrangeiros em nosso país, e em especial no altamente estratégico território amazônico. Tampouco se manifestam os "nacionalistas" à la Bolsonaro, em verdade entreguistas lambe-botas dos ianques e alinhados ao capital internacional.
Como marxistas somos internacionalistas. Mas estamos cientes de que a luta "meramente" nacional pode desempenhar papel progressista em dados momentos da luta de classes mundial. Como diz Trotsky no "Programa de Transição", a defesa da pátria para o trabalhador é uma coisa, para o capitalista, outra bem diferente. Para as massas trabalhadoras da cidade e do campo, defender a pátria é defender a família e o lar. Para os capitalistas, pelo contrário, a "defesa da pátria" é a conquista de colônias e mercados. Convocamos, assim, os patriotas do campo progressista, popular e democrático, para que possamos em frente única repudiar a política externa do governo golpista Temer e lutar por uma América Latina soberana e livre das ingerências do imperialismo.