quinta-feira, 6 de outubro de 2016

As eleições de 2016 e algumas considerações


Coletivo Espaço Marxista

O resultado do primeiro turno do pleito municipal de 2016 foi marcado por uma contradição: ao mesmo tempo em que expressou a tendência conservadora -como em São Paulo, com a eleição do tucano Doria já em primeiro turno-, trouxe vitórias relativas para o campo da esquerda (em sentido amplo), como também em São Paulo com a eleição a vereador de Suplicy como o mais votado, ou no Rio de Janeiro, com o crescimento da bancada do PSOL e a ida de Marcelo Freixo ao segundo turno, derrotando a mafiosa máquina do PMDB fluminense. O índice de nulos, brancos e abstenções, por outro lado, tem aumentado enormemente, alcançando no Rio mais de 40% do eleitorado, o que reflete a rejeição aos nomes e partidos tradicionais bem como um desencanto de amplas camadas da população com a política.

Nós entendemos que a esquerda não pode menosprezar o processo eleitoral e seus números. Sabemos que vigora o jogo de cartas marcadas e que as eleições são excludentes e sob a influência direta do poder econômico- essa é a natureza da democracia burguesa. Todavia, é preciso aproveitar o momento para apresentar e debater política com os trabalhadores, denunciando o sistema através do espaço que ele mesmo disponibiliza. Além disso, ninguém pode negar a importância da presença do campo popular e de esquerda no Legislativo e no Executivo, para apresentar pautas progressistas e lutar por melhorias de direitos.

As correntes anarquistas e esquerdistas que por princípio pregam o voto nulo fazem um trabalho deseducador junto à população. Sair de cena durante o período eleitoral é deixar o caminho aberto para bolsonaros, cunhas, dorias e tudo que há de atrasado e reacionário na sociedade brasileira. Mais ainda: como diz Lênin, a república democrática é a melhor forma de Estado para o proletariado no regime capitalista. Afinal, apesar de todas as suas limitações e contradições, a democracia burguesa permite -em tese pelo menos!- liberdade de organização, de discussão etc.

Os setores reacionários da sociedade não se conformam que a classe trabalhadora tenha tais direitos (mesmo que limitados), e incessantemente tentam fazer a roda da história voltar. Por exemplo, as chamadas reformas eleitoral e política têm o objetivo claro de dificultar ao máximo o funcionamento (e mesmo a existência) dos partidos de esquerda. É através do parlamento, igualmente, que os ataques na legislação sobre os direitos sociais e trabalhistas são desferidos. Por tudo isso, o movimento popular e de esquerda não pode menosprezar as lutas institucionais, e eleger seus representantes é uma poderosa ferramenta nesse sentido. Em muitas vezes, em razão do estágio da luta de classes e da debilidade da classe trabalhadora, não se trata nem de obter avanços mas sim de impedir retrocessos; nessas hipóteses, caso a caso, é necessário saber "qual nota tocar", como Trotsky dizia sobre a escolha do "mal menor"- há inimigos imediatos e outros cujo confronto podemos adiar um pouco. Assim, em um cenário de segundo turno entre dois candidatos burgueses, há que impedir que a direita explícita, marcadamente fascista, assuma o poder, mesmo que isso signifique votar em um candidato de direita "liberal".

O movimento popular e de esquerda precisa utilizar todas as ferramentas e instrumentos que têm à mão, para obter mais e mais conquistas para a classe trabalhadora (ou impedir que retroceda nas conquistas). Não pode ceder nem à capitulação reformista e nem ao sectarismo infantil. Principalmente no atual momento de ofensiva reacionária no Brasil e no mundo, que pede unidade de ação em frente única de todo o campo progressista.
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