quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O Iskra e a imprensa operária


O texto abaixo foi extraído do sítio do Partido Comunista de Venezuela (PCV), e tem como tema o Iskra, jornal histórico dos revolucionários russos. Consideramos oportuno trazer à baila a questão da imprensa marxista, haja vista sua, digamos mesmo, imprescindibilidade para a formação, agitação e propaganda junto aos trabalhadores. Lamentavelmente, as publicações das organizações ditas de esquerda no Brasil seguem sendo academicistas e herméticas, verdadeiros calhamaços com maçantes teorizações que afastam qualquer operário. Como ensina Trotsky ("O que é um 'jornal de massas'?", aqui), "é dever elementar da organização revolucionária tornar o seu jornal político o mais acessível possível para as massas", mas essa lição não é bem compreendida pela pedante esquerda pequeno-burguesa.

Iskra, a "centelha" do Partido Bolchevique

Mariano Vivancos

Lênin, durante seu exílio na Sibéria, concebeu a publicação de um periódico que servisse para assentar as bases ideológicas e organizativas do Partido do proletariado, para propagar as ideias do socialismo científico entre a classe trabalhadora russa e lutar contra o revisionismo.

Em 24 de dezembro de 1900 (segundo o calendário atual) saiu o primeiro do número do Iskra ("faísca", "centelha", em russo), em Leipzig, Alemanha, em razão da dificuldade de produzi-lo no interior da Rússia por causa da repressão czarista. Depois foi editado em Munique, a partir de julho de 1902 em Londres e desde a primavera de 1903 em Genebra.

Lênin, no editorial do primeiro número do jornal, intitulado "As tarefas imediatas de nosso movimento", apontou a necessidade de criar um Partido marxista na Rússia. Em muito pouco tempo, o periódico foi se convertendo no centro unificador das forças do Partido, o centro que agrupava e educava seus quadros. Seu lema era "Da faísca sairá a chama".

Na primavera de 1901 foram criadas imprensas clandestinas em diversas cidades russas para satisfazer a grande demanda pelo Iskra. A companheira de Lênin, Nadehzda Krupskaia, era responsável pelas relações com os comitês do interior da Rússia, que enviavam ao periódico cartas comunicando as lutas e reivindicações operárias e camponesas.

No Iskra, Lênin foi o ideólogo, diretor e autor de dezenas de artigos, além de editor exigente. Os artigos de Lênin publicados nos números 4 e 12 dão resposta às questões mais importantes do movimento revolucionário: caráter e conteúdo principal da agitação política, tarefas de organização e plano de criação de um combativo Partido marxista. Ambos artigos serviram de base para a obra "Que fazer?", publicada no número 18.

Por iniciativa de Lênin, o Iskra elaborou um projeto de Programa marxista para o Partido (publicado no número 21) e preparou o 2º Congresso do POSDR (Partido Operário Social-Democrata Russo), que se realizou entre julho e agosto de 1903. Então, a maioria se considerava "leninista-iskrista". O Congresso reconheceu o jornal como seu órgão central de difusão.

Um dos legados deixados para a posteridade pelo Iskra foi a necessidade de todo Partido marxista ter seu órgão de expressão que forme, informe e agite, combatendo a imprensa burguesa e seu sistema político. Por outro lado, a luta ideológica constante contra o reformismo e o oportunismo. E autofinanciado, para manter sua total independência.

Lênin, através do Iskra, teorizou sobre a correlação entre o espontâneo e o consciente no movimento operário, o papel da vanguarda, da política e da organização. Não servir ao movimento operário passivamente, mas sim representar seus interesses, apontar seu objetivo final, suas tarefas políticas e salvaguardar sua independência política e ideológica. Desligado do marxismo, o movimento operário se amesquinhará e se transformará em um movimento burguês: pleiteando unicamente a luta econômica, a classe trabalhadora perde sua independência política, se converte em apêndice dos demais partidos e trai o grande conceito: "A emancipação dos trabalhadores é obra dos próprios trabalhadores".

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