Coletivo Espaço Marxista
julho de 2017
Conforme era esperado, Lula é condenado pelo juiz-inquisidor tucano Sergio Moro. Toda a narrativa "lavajatiana" foi construída rumo a isso desde o início, dentro de um projeto deliberado para destroçar o PT e suas lideranças, bem como os setores da burguesia brasileira alinhados ao nacional-desenvolvimentismo petista. As implicações geopolíticas são muito evidentes para que se possa acreditar na cantilena hipócrita do "combate à corrupção". O fato de políticos arqui-corruptos, de Aécio a Temer, passando por Jucá, escaparem incólumes da sanha "justiceira" dos procuradores de Curitiba, apesar de fartas provas (ao contrário de Lula, cuja condenação no caso do tríplex no Guarujá se deu na base do "disse-me-disse" e papeis sem assinatura), é exemplo evidente da seletividade da operação. Aécio é emblemático: apesar de gravações em áudio e tudo o mais (onde diz que mataria antes de ser delatado), foi afastado do mandato de senador por pouquíssimo tempo, tendo retornado inclusive a tempo de votar contra os trabalhadores, na aprovação da nefasta reforma trabalhista no Senado; já Delcídio do Amaral por muito menos sofreu execração pública e foi humilhantemente arrastado ao cárcere, em pleno exercício do mandato (o que contraria a Constituição, que só admite prisão nessas circunstâncias em caso de flagrante delito). A diferença é óbvia: Aécio é tucano, enquanto Delcídio era do PT. Apenas imbecilidade e má-fé podem justificar a crença na "imparcialidade" dos impolutos "combatentes da corrupção" da máquina judiciária-policial burguesa.
O Congresso, por sua vez, segue blindando Temer. O parecer de Sérgio Zveiter (PMDB/RJ), que autorizava o prosseguimento das investigações por corrupção no Supremo, foi fragorosamente derrotado na Comissão de Constituição, Justiça & Cidadania (CCJ) da Câmara, por meio de uma série de manobras governistas que evidenciaram o caráter de balcão de negócios do parlamento burguês. Todavia, o fato de o relator ser do mesmo partido de Temer e o racha do PSDB mostrado na votação deixam evidente que o bloco golpista passa por uma tensão interna, de modo que é possível que Temer seja "rifado" antes de 2018. A permanência do golpista dependerá da sua capacidade de aplicar o ajuste neoliberal, com o ritmo e intensidade desejados pelo capital internacional. Caso vacile nesse sentido, Temer será facilmente descartado e substituído por outra figura tão desprezível e direitista quanto, no caso o presidente da Câmara Rodrigo Maia. A burguesia se livra sem o menor "peso na consciência" de aliados que se tornam descartáveis ou indesejáveis. Foi o caso de Eduardo Cunha, que tão logo cumpriu sua tarefa autorizando o processo de impeachment contra Dilma Rousseff foi defenestrado e até agora está em cana.
A burguesia, portanto, está em posição de vantagem. Caso Temer não consiga aprofundar o ajuste neoliberal, será substituído por outro aliado de confiança do capital, Rodrigo Maia. Novas eleições gerais não são garantia de que essa ofensiva reacionária será derrotada. Pelo contrário, diante do grau de desmobilização da esquerda -do que foi exemplo a pequena mobilização do dia 30/ 06, que deveria ser uma grande greve geral mas que foi boicotada pelas centrais- é muito provável que seja vitorioso outro representante do grande capital, e dessa vez "legitimado" pelo voto popular para acabar de vez com o que resta de direitos sociais. A anulação do impeachment tampouco é uma possibilidade: há muito o próprio PT jogou a toalha, como comprova a fala de Lula no 6º Congresso do partido, no sentido de que se preparam para voltar ao poder em 2018, ou seja, consideram o golpe fato consumado.
Como se vê, os trabalhadores não podem criar ilusões nos mecanismos da democracia burguesa. O verdadeiro poder está nas mãos de quem possui o capital. As revelações de Joesley Batista, da JBS, sobre as milionárias doações a políticos comprovam isso: se uma empresa distribui R$ 53 milhões a 176 parlamentares nas eleições de 2014, isso quer dizer que essa empresa é dona de quase 40% da Câmara, e é óbvio que não é ao eleitor, e sim à empresa, que o parlamentar venal prestará obediência. Isso não significa, por outro lado, que devemos deixar de lado a disputa no parlamento. Pelo contrário, é preciso travar o combate também lá, denunciando e expondo o jogo viciado da democracia burguesa e lutando por uma legislação favorável aos trabalhadores (ainda que em moldes capitalistas). O campo popular, progressista e de esquerda deve estar unido em todas as frentes de luta, portanto, para enfrentar os ataques reacionários dos donos do capital e seus lacaios, seja Temer, Maia ou qualquer outro.