domingo, 11 de junho de 2017

Comentários sobre o 6º Congresso do PT


Coletivo Espaço Marxista
junho de 2017

O PT realizou há pouco seu 6º Congresso Nacional, consagrando a senadora Gleisi Hoffmann como a primeira presidenta da sigla. O discurso de Lula, na abertura, como esperado foi na linha do tradicional caráter conciliador do partido (daí o tom bonapartista de seu governo, isto é, de árbitro das classes em disputa): se por um lado defendeu a política externa petista na construção da multipolaridade mundial, bateu nas Organizações Globo, falou em defesa de índios, quilombolas, mulheres e LGBTs, e mesmo se referiu aos adversários como "inimigos de classe", por outro lado sequer citou o "fora Temer" ou a convocação para novas eleições gerais -ao contrário, falou no partido voltando a governar a partir de 2018, isto é, deu como fato consumado a conclusão do mandato de Michel Temer- e chamou os empresários para conversar, afirmando que "não queremos acabar com eles, mas sim que não acabem com a gente"(!).

Não nos sentimos decepcionados pois, por mais que desejássemos uma guinada à esquerda, somos céticos quanto à capacidade do PT em fazê-la. Anos de adaptação ao institucionalismo burguês, com uma política de alianças das mais reprováveis do ponto de vista classista -que cobrou seu preço no golpe sofrido por Dilma Rousseff-, retiraram do partido seu espírito de luta, do que foi exemplo a tímida resistência durante o processo do golpe. Pelo contrário, o que domina hoje são oportunistas burocracias sindical e estudantil, mais apegadas aos seus cargos do que à lutas nas ruas.

Todavia, o PT segue sendo o partido com maior influência de massa, dentre as agremiações à esquerda do espectro político (mesmo que se possa considerá-lo como "de centro"). Ainda possui um base popular. E, ainda que seus governos tenham aplicado a agenda neoliberal e se subordinado ao mercado, as pautas históricas do partido (pois há que diferenciar o que foi o governo e o partido como um todo) -defesa de minorias, redistribuição de renda e justiça social, multipolaridade (ainda que em marcos estritamente capitalistas)- são francamente progressistas. E a direita sabe disso: o ódio golpista contra o partido, na verdade, sempre foi um ódio contra a esquerda em geral, por mais, repita-se, que o partido tenha capitulado a práticas de direita durante seu governo. Sua origem operária e "vermelha" é intolerável para amplos setores reacionários da sociedade brasileira.

Diante de tudo isso, é um erro crasso eleger o PT como o inimigo principal a ser batido, como fazem as seitas do esquerdismo-pequeno burguês. Tais grupos sectários chegam ao absurdo de exigir a prisão de Lula (!), em verdadeira unidade de ação com o Judiciário burguês e as Organizações Globo. Caem no discurso fácil e despolitizado (apesar de supostamente "radical") do "é tudo igual", como se não houvesse diferença de matizes entre o PT e o PSDB e o DEM. São como os sectários criticados por Trotsky no "Programa de Transição", que "se recusam a estabelecer uma diferença entre os campos em luta na Espanha pela razão de que os dois campos têm um caráter burguês".

O Coletivo Espaço Marxista está atento a todas essas contradições, isto é, não deposita muitas esperanças no PT mas ao mesmo tempo não desconsidera sua importância de massa. Assim, sem jamais abrir mão da crítica e denúncia daquilo que reputarmos traição de classe, ombrearemos com o PT sempre que necessário. Seguimos insistindo na importância de uma frente única que una todo o campo popular, de esquerda e progressista. É uma necessidade urgente de nossos tempos.
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