Coletivo Espaço Marxista
Com estardalhaço, a Polícia Federal deflagrou a operação "Carne Fraca", visando apurar irregularidades no setor frigorífico nacional, como a venda de produtos adulterados, vencidos ou com substâncias tóxicas. A pirotecnia foi a de sempre, envolvendo mais de mil policiais em seis Estados brasileiros e dezenas de prisões e mandados de busca. A megaoperação causou turbulência no setor, afetando as ações das gigantes JBS (Friboi, Seara) e BRF (Sadia, Perdigão) e trazendo queda vertiginosa nas exportações.
Como é sabido, o setor de carnes brasileiro é um dos ramos da economia, como a construção civil, que mais cresceu nos últimos anos sob o signo do neodesenvolvimentismo petista, caminhando para se tornar referência mundial. Não se pode desconsiderar, nesse sentido, o interesse dos competidores estrangeiros no desmantelamento de tais grupos econômicos. Não por acaso tais setores (incluindo nessa movimentação o linchamento público contra a Petrobras) têm estado nos últimos tempos sob severo ataque midiático, policial e judicial (do que é símbolo a tucana "Lava Jato"). As contradições capitalistas são acirradas e os grandes grupos econômicos estão sempre brigando entre si para abocanhar a melhor parte, buscando sempre superar suas crises "pela conquista de novos mercados e pela exploração mais profunda de antigos mercados", como é dito no "Manifesto Comunista". Nesse contexto de luta fratricida inter-burguesa, não é interessante para o imperialismo que novos atores ganhem importância no cenário mundial, e é por isso que as forças imperiais, a partir de Washington, não medem esforços para esvaziar iniciativas como os BRICS e o Mercosul, esse último já dado como carta fora do baralho no sinistro programa "Ponte para o Futuro" do PMDB golpista. É preciso, portanto, rejeitar o senso comum e o discurso disseminado diariamente pela grande mídia e compreender dialeticamente as contradições em jogo por trás de medidas tão "heroicas" quanto as megaoperações da Polícia Federal.
Por outro lado, o agronegócio brasileiro, do qual o setor de carnes é um dos braços, está longe de merecer a menor simpatia das forças de esquerda. Os nomes mais reacionários do Congresso Nacional, como Caiado, integram a nefasta "bancada ruralista". Como é notório, é um ramo que desmata grandes áreas florestais, avança sobre as terras indígenas, utiliza mão de obra escrava e, não temos a menor dúvida, os grandes frigoríficos utilizam mesmo produtos adulterados ou vencidos para garantir suas altas margens de lucro. Isso é inerentemente capitalista: o foco não é o consumidor ou sua saúde, e sim a vantagem financeira que o burguês pode obter. Por isso mesmo, não se pode acreditar que a solução seja a destruição do agronegócio brasileiro pelas mãos do agronegócio internacional ou depositar esperanças em agentes do institucionalismo burguês alinhados a interesses da direita internacional como Moro e a PF.
Pelo contrário, a saída contra a destruição do meio ambiente, o veneno em nossas mesas e todas as demais mazelas e desmandos típicos do capitalismo está na tomada de poder pelos trabalhadores. É preciso uma ampla reforma agrária social e popular, que garanta um desenvolvimento efetivamente sustentável e uma equilibrada produção rural, que respeite o meio ambiente e o planeta. Aproveitando a analogia agrícola, é preciso ir à raiz, ou seja, ser radical na solução do problema, como apregoa Marx na "Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel".