Coletivo Espaço Marxista
As Olimpíadas se aproximam, e com elas o oba-oba midiático e o ufanismo da burguesia deslumbrada. Por quase um mês os holofotes estarão voltados para a pauta esportiva, e a grave crise política ficará em segundo plano. Isso dará tempo para que o bloco golpista consolide sua posição, esvaziando a já tímida e pusilânime defesa de Dilma Rousseff, aplainando caminho para que o impeachment seja aprovado tranquilamente pelo Senado no final de agosto.
O ataque brutal do governo golpista de Michel Temer ao que resta de Estado Social e aos direitos e garantias fundamentais -cortes de milhares de bolsas no ensino superior federal, a venda a preço de banana pela Petrobras de sua participação na área de pré-sal de Carcará para a norueguesa Statiol, a condução do Ministério da Justiça pelo truculento Alexandre de Moraes etc.-, e tudo alinhado a Washington, é só uma amostra do que está por vir. O silêncio dos "revoltados on line" da pequena-burguesia prova apenas que, quando não se trata de pura massa de manobra teleguiada pelo Jornal Nacional, se trata de real e despudorada canalhice travestida de "indignação". Em seu patriotismo torto, a bandeira nacional não pode ser vermelha, mas os recursos naturais brasileiros podem ser entregues às potências estrangeiras sem o menor problema!
Lamentavelmente o campo de esquerda não tem mostrado força para barrar a ofensiva golpista. Após um início combativo, com bloqueios de estrada pelos movimentos sociais e ocupação de prédios públicos (como o MEC no Rio de Janeiro), a resistência popular arrefeceu. A esquerda até então governista -o próprio PT e PCdoB- parece ter "jogado a toalha" (apesar de Dilma dizer que irá até o fim) e cedeu ao pragmatismo, já visando as eleições municipais deste ano. De forma vergonhosa, estão na ordem do dia alianças eleitorais inclusive com protagonistas do golpe, como o PSDB e o DEM. Vale tudo na sanha eleitoreira dessa peleguíssima esquerda degenerada. Por sua vez, a oposição de esquerda -PSTU, PCB, PCO e PSOL- segue sem uma atuação em conjunto coordenada, apesar dos chamados e palavras de ordem; o PSTU, aliás, sequer isso, mantendo seu isolacionismo "purista" e o discurso ultraesquerdista -que, somado à prática de direita, mostra seu caráter centrista-, chegando às raias de negar a existência do golpe. Com posições tão ruins, o PSTU acabou por sofrer um racha que deve ter levado embora quase a metade do partido, que hoje se organiza no MAIS- Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista, que apesar de apontar críticas acertadas no momento do racha, infelizmente, até onde indica, parece que reproduzirá uma leitura de esquerda pós-moderna à la PSOL.
À parte os movimentos da esquerda partidária, a luta de classes segue sem trégua no país. O Coletivo Espaço Marxista, na medida de suas modestas forças, está na trincheira com os trabalhadores em prol de melhores condições e autonomia, como na greve dos estivadores do Porto de Santos, onde temos camaradas diretamente engajados. Solidarizamo-nos também com os comerciários do Rio de Janeiro, cujas assembleias e estado de greve têm levado o patronato a buscar diálogo, e começamos um trabalho junto ao movimento comunitário na cidade. Além disso, temos conseguido fortalecer uma rede de simpatizantes, que compreendem a necessidade de um grupo da esquerda trotskysta que professa um marxismo heterodoxo e não-sectário como nós.
Não se pode desanimar. Apesar das condições adversas, e justamente por causa delas, o esforço deve redobrar. Chamamos todo o campo popular, progressista e de esquerda para a unidade de ação contra a ofensiva reacionária em curso, no Brasil e no mundo. O chamado do Manifesto Comunista continua atual como nunca: proletários de todo mundo, uni-vos!