domingo, 13 de agosto de 2017

LIT-QI conclui que o melhor para a Venezuela é o aprofundamento neoliberal


O texto que publicamos abaixo analisa o posicionamento da LIT- Liga Internacional dos Trabalhadores acerca da Venezuela. Como denunciado no texto, a organização morenista professa um esquerdismo infantil ingênuo (ou mal intencionado) na análise da conjuntura do país e na prática está do lado da direita pró-imperialista na luta contra a Revolução Bolivariana. Nós do Coletivo Espaço Marxista, ao contrário, estamos do lado de Maduro e do povo venezuelano. As críticas (que possuímos) ao regime devem ser no sentido do aprofundamento do processo bolivariano, e não no de sua interrupção, que é o que fatalmente ocorrerá caso a direita alinhada a Washington consiga dar um golpe de Estado. Mesmo que o regime bolivariano seja exclusivamente "burguês" (caracterização que em si já seria controvertida), ainda assim, como ensinou Trotsky, "em todos os casos nos quais ela [a burguesia nacional] enfrenta diretamente os imperialistas estrangeiros ou seus agentes reacionários fascistas, lhe damos nosso pleno apoio revolucionário".

LIT-QI conclui que o melhor para a Venezuela é o aprofundamento neoliberal

Rodrigo Choinski
jornalista

Entenda a falta de lógica da nota da LIT-QI, representada no Brasil pela CST (no PSOL) e pelo PSTU, sobre a Venezuela.

1º. Diz que a direita está ligada, é apoiada pelo imperialismo (Estados Unidos):

O imperialismo aprendeu com a derrota do golpe em 2002 e do lockout (...) Enquanto isso, apoiava a oposição de direita para capitalizar eleitoralmente o desgaste dos governos chavistas e reconquistar o governo mais à frente. Passou a usar o que chamamos de reação democrática, ou seja, a utilização dos processos eleitorais para canalizar as crises políticas. Uma demonstração disso é que, em 2004, a oposição de direita propôs um "referendo revogatório" (...) ("Aonde vai a Venezuela?", aqui)

2º. Mais à frente diz que a estratégia da direita apoiada pelos Estados Unidos está dando certo e é ela quem realmente está capitalizando o desgaste do chavismo:

Em 2015, a oposição de direita ganhou as eleições parlamentares, capitalizando o desgaste de Maduro e elegendo mais de dois terços do Parlamento Nacional.

3º. A LIT-QI admite que esta estratégia não tem nada a ver com defender "liberdades democráticas" mas é apenas uma manipulação para promover políticas contra os interesses dos venezuelanos, portanto a democracia está sendo manipulada para promover o autoritarismo daqueles que detém o poder econômico a nível mundial e local, os Estados Unidos e a direita venezuelana. A própria LIT-QI admite que essas políticas são bem piores do que as políticas de Chávez e Maduro:

Na verdade, o imperialismo não tem qualquer compromisso com liberdades democráticas. Apenas usa essa tática para desgastar ainda mais o governo venezuelano. Trump pressiona Maduro para um acordo que possibilite eleições para que a MUD ganhe – a oposição de direita pró-imperialista. Assim, essa direita burguesa retomaria o controle do país. O programa econômico da MUD é a radicalização do neoliberalismo na Venezuela, abrindo ainda mais o país para o imperialismo e reduzindo ou suprimindo os programas sociais.

Primeira conclusão: (1) A direita apoiada pelos Estados Unidos está (2) manipulando a população venezuelana com todo seu poder econômico e ideológico para (3) capitalizar o desgaste do chavismo (4) e a ferramenta utilizada para isso são as eleições gerais, que sendo manipuladas não expressam uma verdadeira democracia.

4º. A LIT-QI admite o fracasso da oposição de esquerda, como já foi citado, a direita capitalizou 2/3 de votos nas eleições gerais, por meio de seu poder econômico e ideológico, com apoio dos Estados Unidos, para impor políticas neoliberais contra os interesses do povo venezuelano, portanto anti-democráticas e confessa que não há uma alternativa factível mais à esquerda do que o chavismo, nem minoritária:

O enorme problema é que não se construiu uma alternativa de esquerda contra o chavismo, ainda que minoritária.

5º. A LIT-QI explica isso dizendo que o chavismo mantém a hegemonia na esquerda, atraindo toda a esquerda venezuelana para si. A LIT-QI reclama portanto que o chavismo não abriu mão de defender seu projeto, mas que grupo abriria? Queriam que o próprio chavismo criasse uma oposição a ele mesmo? Enfim, reclamam do "reformismo" do chavismo, mas escondem o fracasso de quem tenta ser oposição de esquerda de Maduro, por que não discute as causas deste fracasso já que para a LIT-QI é tão óbvio que Maduro é ruim para o trabalhador? É óbvio porque, a política sectária de organizações como a LIT-QI se dá num campo idealista, são incapazes de fazer uma análise de conjuntura realista, todas suas análises são variações de um modelo, provavelmente salvo já em seus computadores, que explora seletivamente algumas indicações do revolucionário russo Leon Trotsky.

Agora vejamos as principais reclamações e slogans (vazios) da LIT-QI em relação à Venezuela.

1º. Reclama que o governo Maduro ignorou o Parlamento comandado pela direita, com apoio dos Estados Unidos, que querem "aprofundar o neoliberalismo" na Venezuela. Diga-se que o parlamento também agiu de forma anti-democrática querendo dar um golpe parlamentar em Maduro– o que não aparece na análise da LIT-QI.

O governo Maduro simplesmente ignorou o Parlamento eleito e recorreu ao poder no país, que passava pelo apoio direto das Forças Armadas.

2º Exige que haja eleições gerais imediatamente, eleições essas que segundo a própria LIT-QI levará ao poder a direita venezuelana, apoiada pelos Estados Unidos, para implementar políticas anti-democráticas (contra os interesses dos venezuelanos):

IX – Um programa para o país
(...)
Fora Maduro!
Eleições gerais imediatamente!

A LIT-QI ainda fala em "greve-geral", "novas eleições sindicais" e outras proposições aparentemente sadias, mas não avalia se elas são possíveis. O objetivo seria formar uma oposição dos trabalhadores para derrubar Maduro, mas é óbvio que, considerando que Maduro seja um inimigo da classe trabalhadora – o que é absolutamente contestável, basta ver quem está contra ele – tais proposições são apenas slogans idealistas e o que sobra de realista é a chamada para eleições gerais, obviamente o objetivo da LIT-QI [que provavelmente não conseguiu nem 1% de deputados nas últimas eleições].

Conclusão final

A LIT-QI pede eleições para que a direita possa voltar ao poder manipulando a democracia e assim aprofundar políticas neoliberais, de forma autoritária, não democrática, porque não é isto que defende abertamente. Se isso é um (absurdo) erro, de uma análise que beira a um infantilismo sectário e total irresponsabilidade, ou se há muito mais caroço neste angú, considerando que a direção da LIT-QI está organizada prioritarimante na União Europeia, aliada do imperialismo americano, não é possível saber.

O que faltou falar na nota da LIT-QI:

1 – Os protestos da oposição, organizados amplamente pela direita têm sido extremamente violentos, friso novamente que a direita venezuelana, segundo a própria LIT-QI, defende políticas contra o interesse do povo venezuelano e é apoiada pelos Estados Unidos. Alguns fatos:

- Execução de políticos chavistas
- Roubo de um helicóptero militar e ataque de granadas contra o Supremo Tribunal venezuelano;
- Execução de militantes chavistas;
- Invasão de bases militares;
- Invasão da empresa de transporte estatal e queima dos veículos;
- Instalação de bombas e início de incêndio em hospitais.

2 – A LIT-QI se apoia, assim como a mídia controlada pelos Estados Unidos, como CNN e Fox, ou por seus aliados, como BBC, AFP, Reuters etc e a mídia local (Rede Globo, SBT, Band, CBN, etc), nas cerca de 100 mortes ocorridas nestes 4 meses de protestos, relacionadas a eles. Mas manipula a informação tentando passar a ideia de que estas 100 mortes foram de opositores causadas sob ordens de Maduro, o que é mentira. A maioria destas mortes aconteceram durante bloqueios e protestos em que a oposição comparece armada de explosivos. Neste número há mortes:

- De opositores à Maduro causadas por acidentes pelo manuseio de explosivos;
- De policiais da Guarda Bolivariana;
- Há execuções de apoiadores de Maduro, ou pessoas que pareciam apoiar Maduro executadas pela oposição;
- Há pessoas que não querem se meter nos protestos nem são a favor do governo, mas tentaram furar os bloqueios armados pela oposição de direita e por isso foram mortos;
- Há mortes causadas por balas perdidas, já foi confirmada pelo menos em uma delas o disparo partiu dos opositores à Maduro;
- E sim, há mortes causadas por agentes do Governo, os que foram identificados encontram-se presos, porque Maduro proibiu o uso de armas letais em protestos.

3 – Uma comparação honesta com regimes alinhados com os Estados Unidos, como o governo de Michel Temer, em apenas 1 dia, 9 trabalhadores rurais foram assassinados pela Polícia Militar a mando de políticos de direita por causa política – lutavam pela reforma agrária, casos que são corriqueiros no Brasil, cerca de 9% das mortes em cerca de 120 dias de protestos na Venezuela, cerca de 900% a mais portanto. Uma pesquisa séria chegaria facilmente a conclusão que o regime brasileiro matou mais opositores do que Maduro, se considerarmos apenas as mortes por agentes do governo venezuleano, sempre em situações de protestos violentos, a por centagem é muito maior, e a luta dos trabalhadores brasileiros é totalmente pacífica ao contrário da direita venezuleana.

4 – Faltou fazer uma comparação com as mortes ocasionadas pelo grupo que se beneficiará se as propostas da LIT-QI forem adiante, a direita venezuelana, segundo a própria nota "Foram milhares de mortes"ocasionadas durante o Caracazo em 1989.

5 – Atualização: Recentemente um grupo paramilitar armado de fuzis e armas de grosso calibre, composta além de opositores por mercenários contratados pela direita, tentou tomar uma base militar, 7 foram mortos e outros presos, alguns conseguiram escapar. O que os agentes poderia fazer? Tentar dialogar com quem está tentando te matar?

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