terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Conjuntura e encaminhamentos (dezembro de 2015)


O Espaço Marxista, em sua modesta faina de blog de formulação política, agitação e propaganda, entende por bem fazer agora um apanhado dos acontecimentos que considera mais relevantes, no Brasil e no mundo. Do geral para o particular, comecemos com a conjuntura internacional.

Mantemos nossa opinião de que vivemos uma grande ofensiva movida pelo imperialismo ocidental (EUA, UE e aliados), que busca recuperar o prejuízo e o espaço perdido com a crise econômica de fins dos anos 2000, que possibilitou o fortalecimento, mesmo que em muitos pontos ainda tímido, de um bloco alternativo. Tal bloco alternativo tem como atores, dentre outros, os BRICS, com destaque para a Rússia e a China, o Eixo Bolivariano, o Mercosul, o Irã e os Estados Operários remanescentes- Cuba e Coreia do Norte. São elementos que, mesmo que possam em algumas (ou mesmo muitas) circunstâncias ser parceiros das potências ocidentais, trazem em relação a elas uma dimensão de rivalidade e concorrência, ou, como no caso de Coreia e Irã, de hostilidade declarada. É progressista que haja tais fissuras na hegemonia imperialista, por isso nós defendemos a frente única com todos esses agentes alternativos -aos quais incluimos os movimentos de massa, camponeses ou urbanos, armados ou não, ainda que nos marcos do nacionalismo burguês, incluindo de matiz religioso como as resistências islâmicas do mundo árabe- contra o imperialismo ocidental.

No cenário atual, isso nos leva por exemplo às seguintes posições:

a) Síria. Emblocar com o campo Assad- Putin- xiita (Hezbollah, Irã e milícias populares) contra a OTAN e aliados (Exército "Livre" Sírio e outras forças mercenárias) e o jihadismo wahhabista (ISIS, Frente al-Nusra etc.). Aqui, dentre vários posts, está expressa nossa posição. Por princípio, apoiar a luta do povo curdo por independência e autodeterminação; não apoiar, todavia, na medida em que esteja emblocado com a OTAN contra Assad (conforme expusemos aqui). Por outro lado, apoio incondicional ao PKK contra o governo reacionário da Turquia.

b) América do Sul. Emblocar com o pólo popular de esquerda, mesmo com setores que se organizem em torno do governismo -como no caso do Brasil e do PT- contra a ascensão de direita. Para nós, o ovo da serpente está eclodindo no continente: a vitória da direita no "6D" venezuelano e de Macri na Argentina, somado ao golpísmo pró-impeachment no Brasil, provam isso. A posição do esquerdismo pequeno-burguês "nem nem" (nem PT nem Aécio, nem Macri nem Scioli etc.) é absurda, na ausência de um pólo alternativo de esquerda que possa suplantar os antagonistas existentes. A vitória da direita "puro sangue" sobre a direita -admitamos que se trate de direita- com "tintas" sociais e populares significará a implantação brutal, num ritmo e escalas inauditos em relação aos atuais, da agenda neoliberal. Apenas quem não tem raízes junto à classe trabalhadora poderia dizer que "tanto faz". Os trabalhadores precisam se aferrar às menores posições de vantagem, e jamais abrir mão delas porque PT e PSDB são "tudo igual". Temos conosco, nesse sentido, a lição de Trotsky:

Aqueles que são incapazes de defender as conquistas já obtidas, nunca poderão lutar por novas. ["Carta aos Trabalhadores da URSS", 1940. Em inglês, aqui]

Sabemos muito bem, dos anos de FHC, o que é o neoliberalismo. O PT aplica uma política neoliberal também. Não somos cegos a isso. Todavia, mesmo a aplicação sob o PT é mediada e mitigada em relação à direita tucana e, repetimos, ninguém que se diga do lado dos trabalhadores poderá ficar indiferente a tais nuances.

O dito acima, portanto, em momento algum deve ser entendido como capitulação ou sujeição à política petista e aos setores burgueses que possam pontualmente estar conduzindo enfrentamentos progressistas. Porque não abrimos mão de nosso próprio programa e da crítica, mais que isso, da denúncia impiedosa das medidas anti-trabalhador aplicadas. A unidade de ação que defendemos é diferente do frentepopulismo, onde "aliados políticos puxam em direções opostas" com resultado de forças igual a zero (Trotsky, "Menchevismo e Bolchevismo na Espanha", aqui). A frente que propomos é única e exclusivamente visando o interesse da classe trabalhadora, mesmo que, conjunturalmente, isso signifique ombrear com frações da burguesia.

Ao longo do ano temos participado dos atos puxados pelo campo anti-golpista no Rio de Janeiro, que o esquerdismo infantil tacha de "governistas"- e conclamos todos a também participarem, demarcando, evidentemente, nosso caráter de oposição de esquerda.

No geral, diante do já falado, além da defesa incondicional dos Estados Operários de Cuba e Coreia, são eixos prioritários os seguintes. Apoiar:

- O bloco Assad-Putin- xiita contra a OTAN e contra o jihadismo wahhabista na Síria;
- Os houthis no Iêmen contra a reacionária monarquia saudita;
- O fim da entidade sionista "Israel"; pela vitória da resistência palestina, em bloco único envolvendo as forças seculares e islâmicas;
- Novorossia contra a Ucrânia/ OTAN;
- Sudamérica. Eixo bolivariano contra a direita e o imperialismo;
- Brasil. Frente única anti-golpe. Manter a denúncia contra a capitulação e as práticas anti-trabalhador do PT.

No que tange à organização, o blog Espaço Marxista continua ligado à Frente Resistência, da qual falamos aqui. Seguimos objetivando o erguimento do Partido Mundial da Revolução Socialista, isto é, a Quarta Internacional, o que pressupõe uma organização em moldes leninistas. Nossa experiência frustrada com a FCT -explicada no link anterior- nos mostra, todavia, o perigo de se construir açodadamente. Diante das tarefas que tem diante de si, o partido revolucionário requer maturação e reflexão, a menos que se conforme em ser mais uma das seitas que pululam ao redor da classe, sem ter contudo inserção na mesma. Nós, que somos trotskystas, trazemos à baila outra lição do Velho:

Eu sempre vi na equivocada impaciência revolucionária a fonte do oportunismo e a tendência ao aventureirismo (...) Eu rejeito a acusação de impaciente, assim como muitas outras acusações... Eu posso esperar. Em todo caso, o que a palavra 'esperar' significa no presente momento? Preparar para o futuro! Toda a atividade revolucionária não caminha para isso? ["Sede de poder", 1937. Em inglês, aqui]

Pensamos, face ao exposto, que tempos difíceis se avizinham. O nome para nossa Frente, "Resistência", não foi por acaso; o momento parece ser mais de defesa que de ofensiva. É por isso que o isolamento e o sectarismo devem ser evitados como a peste, pois a pulverização da luta apenas nos enfraquece e expõe aos inimigos. Somamos-nos, assim, a todas as lutas pela emancipação humana -que só é possível via emancipação do trabalhador-, conforme expusemos em nossa apresentação (aqui):

(...) apoiamos toda e qualquer luta emancipatória, progressista e de resistência popular pelo mundo, ainda que baseadas apenas em critérios de liberdade democrático-burguesa, étnicos/ nacionais ou religiosos.

Nosso posicionamento causa ódio não apenas na direita como nas seitas do esquerdismo pequeno-burguês; é sintomático que desde que nos integramos, ainda no início do ano passado, ao "comitê paritário" que deu origem à FCT e, então, à FR, temos recebido, em conjunto com os demais camaradas que se propõem a construir conosco, ataques por parte de tais seitas. É que, por serem incapazes de construir junto à massa, devotam ódio mortal àqueles que tentam fazê-lo. Mas estes deixamos entregues à própria sorte, aproveitando outra lição de Trotsky no "Programa...", acerca do trato que se deve dar aos sectários.

O blog Espaço Marxista aproveita o ensejo para fazer a todos os camaradas votos de um 2016 promissor e de lutas. Os interessados em dialogar e construir conosco podem enviar emails para souzamagno78@gmail.com.
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