quinta-feira, 9 de julho de 2015

Abaixo com a bandeira confederada escravagista!


O texto a seguir foi extraído de uma fala de Jack Barnes, do SWP estadunidense, em 2001. Foi traduzido por nós a partir daqui, em razão da atualidade do tema: o racismo na sociedade norte-americana, tomada por muitas polianas como exemplo de país democrático -quando até meados dos anos 1960 vigorava uma brutal separação racial-, e o culto à bandeira confederada, em evidência principalmente depois do recente massacre impetrado pelo fascista reacionário Dylann Roof na igreja de Charleston, utilizada pela comunidade negra (aqui).

A bandeira confederada: símbolo de luta para os inimigos mortais dos trabalhadores

Na década seguinte à derrota da escravocracia em 1865, a burguesia ascendente do Norte industrial -agora criando laços com os poderosos interesses fundiários, comerciais e a emergente indústria de manufaturados ao longo do Sul- decidiu de uma vez por todas que não tinha intenção de realizar as aspirações, dos escravos libertos, da reforma agrária radical consolidada na demanda popular por "quarenta acres e uma mula". Caso realizasse, antes de tudo teria privado tais exploradores de uma massa barata de trabalhadores desempregados. Mais que isso, a burguesia acertadamente temia que uma aliança entre agricultores livres, negros e brancos, conjuntamente com a crescente classe trabalhadora fabril nas cidades, poderia se tornar uma forte ameaça à exploração na cidade e no campo, tanto no Norte quanto no Sul.

Em 1877 os governantes norte-americanos retiraram as tropas federais dos Estados da velha Confederação. Essas tropas eram a última barreira entre os trabalhadores negros libertos, de um lado, e gangues reacionárias bem armadas, de outro. Nas últimas décadas do século XIX e ao longo do XX, sucessivas gerações de organizações como a "Knights of the White Camelia" [Cavaleiros da Camélia Branca], a "White League" [Liga Branca], a "Klu Klux Klan", a "White Citizen's Councils" [Conselhos dos Homens Brancos], e muitas outras -com ou sem nome conhecido- levaram adiante um incansável reinado de terror contra a população negra do sul.

As lutas pela liberdade negra nos condados rurais e cidades do Sul, estendendo-se para o Norte, ajudaram a transformar as possibilidades para os operários e camponeses através do país, e em outras partes do mundo sob ataque de Washington. As conquistas desse movimento de massas proletário estabeleceu as bases, dentre outras coisas, para as lutas e demandas dos trabalhadores do campo dos EUA de hoje, como parte de uma aliança operária-camponesa na resistência contra a classe capitalista e sua busca pelo lucro. Esse movimento atraiu, politizou e deu coragem a várias gerações da juventude que colocaram energia na luta contra a Guerra do Vietnã, contra a discriminação no serviço público e nas forças armadas, pela defesa e extensão das liberdades e direitos civis, pela emancipação das mulheres e por um ampla radicalização da agenda política.

Os resultados da história continuam vivos para nós, contradições insolúveis que nunca desapareceram concretamente na medida em que as questões classistas colocadas pelos gigantescos conflitos sociais e políticos continuam em aberto, e ainda se tornarão uma arma nas mãos dos militantes de hoje. As consequências plenas da derrota da Reconstrução Radical serão removidas apenas com a vitória da revolução proletária neste país.

É por isso que as lutas contra a exibição da bandeira confederada em prédios públicos, ou contra monumentos e feriados em homenagem a líderes políticos ou militares da rebelião escravocrata, continuam a ter importância na luta de classes por tantas décadas- de fato, já passado quase um século e meio- depois da sangrenta guerra civil.

Essas lutas hoje, na Carolina do Sul [NOTA: onde se deu o citado massacre de Charleston, citado na introdução deste texto], Mississipi e outros lugares, não querem dizer que negros e apoiadores dos direitos civis estejam sendo malvados com alguém do Sul cujo bisavô foi um soldado confederado que "lutou bravamente" e foi um "bom homem". Vamos dizer que sim. Muitos soldados confederados lutaram bravamente e foram bons homens; em sua maioria eram filhos de trabalhadores e agricultores, como a maioria dos soldados de qualquer exército moderno, especialmente os de infantaria. O que isso tem a ver com o significado político criminoso, tanto naquela época quanto agora, da bandeira de guerra do exército confederado, um exército derrotado e esmagado de uma vez por todas há 136 anos?

Quando exibida hoje, essa bandeira é um emblema, e um encorajamento, para as forças reacionárias que estão determinadas a preservar tanto quanto puderem das consequências de uma contrarrevolução que marcou a trajetória da luta de classes dos EUA no século XX. É um ponto de encontro para as forças que estão atuando nesse sentido. É um símbolo da luta dos inimigos mortais dos trabalhadores para tomar de volta as conquistas dos movimentos de direitos civis e dividir e enfraquecer a classe trabalhadora neste país. É a bandeira dos covardes das rodovias, atacando a dignidade dos negros dia após dia com adesivos e medalhas em suas janelas, para-choques e espelhos retrovisores. É a bandeira sob a qual, poucos anos atrás, eram perpetrados ataques brutais e sangrentos contra os negros. E, sobretudo, ela continua sendo uma bandeira sob a qual tais ataques -contra afro-americanos, imigrantes, judeus, clínicas de aborto, gays e outros alvos da reação- continuam e continuarão a ser perpetrados até que as raízes capitalistas daquele pedaço de pano sulista [original: "Dixie rag", "Dixie" sendo um apelido para os Estados Sulinos] sejam arrancadas do chão pelos trabalhadores deste país e substituídas pela ditadura do proletariado.
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